Como a Covid-19 entrou no Amazonas
O governador Wilson Lima e o prefeito Arthur Neto têm sido provocados a tomar medidas mais restritivas da liberdade em razão do crescimento da pandemia. E devem fazê-lo, não no nível perigoso, sem embasamento técnico ou científico proposto pelo Ministério Público e rejeitado pelo Judiciário. Um meio termo tem que ser adotado, sem ferir o direito fundamental de ir e vir, ou criando zonas de confinamento em área de extrema pobreza, onde o resultado fatalmente seria a desobediência civil sem controle, mais mortes por violência e revolta social.
O que Arthur e Wilson não podem esperar é que o Ministério Público volte a provocar o Judiciário e uma medida draconiana acabe saindo da pena de um magistrado, em grave interferência no poder do Estado e do Município.
Arthur e Wilson são personagens legítimas para adotar essas medidas, não sem antes atuarem no sentido de apoiar as populações mais vulneráveis - os mais pobres, que já perderam o poder de locomoção, a capacidade de armazenar comida e de suportar a crise da saúde que virou crise econômica e lhes tirou o emprego.
Os que alegam que o lockdown, da forma proposta pelo Ministério Público, ainda é a saída para conter a pandemia, esquecem duas coisas. Uma delas é que a cidade tem 2,2 milhões de habitantes, 500 mil possuem um nível de vida satisfatório - lotaram suas geladeiras para enfrentar a quarentena. outra, que esse vírus chegou ao Amazonas pela única entrada possível: o aeroporto Eduardo Gomes. . Quem o trouxe? Não foram os 1,7 milhão de pobres da periferia da cidade que nunca foram a Miami ou estiveram em São Paulo de férias ou a negócio. Vamos penalizar essa gente mais ainda ?
Outra coisa: o lockdown adotado em Madrid, Paris, Londres, Berlim teve êxito porque lá as pessoas têm mais escolaridade, mais poder aquisitivo. O pobre de lá é a classe média daqui, que consegue abastecer a geladeira, se isolar em apartamentos. Aqui o pobre é o que tem fome, vive em casebres insalubres, isolado na periferia. Por isso as medidas restritivas da liberdade devem levar em conta que a pobreza confinada gera doença, violência e morte.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.