Impeachment de Wilson e Carlos pode cair no “isolamento social”
As sessões virtuais do Poder Legislativo são uma excepcionalidade em tempos de pandemia. Deveriam se limitar a temas convergentes. Discutir ou encaminhar o processo de impedimento de um governador, de forma remota, é um excesso. Primeiro, porque exclui a sociedade de uma participação legítima e efetiva nesse processo. Segundo, porque o distanciamento dos próprios parlamentares dos seus pares e dos eleitores impede a construção de “princípios” que podem não convergir em muitos aspectos, mas ao final não passariam, como agora, a ideia de um julgamento meramente politico com fins de contemplar grupos de interesse.
Na reunião desta terça-feira, que definiria os membros da comissão do impeachment, os deputados estavam em suas casas prontos para fazer barulho, elevando uma temperatura já alta e próxima da implosão.
Faltou o olho da sociedade, os gritos dos que são contra e a favor do impedimento - o que só seria possível em plenário não virtual, sem o isolamento social de agora.
Tentar afastar o deputado Josué Neto do comando da reunião foi um golpe. Que deu certo porque ficou insustentável presidir uma sessão onde todos falavam ao mesmo tempo e teve que ser adiada.
Josué sabe que não pode ser o juiz das representações do processo de impedimento, mas nada o impede de presidir a sessão de encaminhamento.
Cabe a ele, entretanto, como presidente do Poder Legislativo, dar o exemplo: remarcar uma nova sessão no plenário da Casa, quando encerrado o confinamento a que todos estão submetidos neste momento.
Seria um leve atraso no processo, mas tempo para construir pontes e permitir que a sociedade participe diretamente, usando sua força para afastar o governador e seu vice, ou mantê-los no cargo. Seria a forma de Josué contemplar o que seu avô, Josué Cláudio de Souza, sempre defendeu: a participação popular, sem a qual não há legitimidade para nenhum ato dos poderes. Nem democracia.
ASSUNTOS: governo do amazonas, impeachment Wilson Lima, josué neto, pandemia, Coronavírus
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.