O que o governador Wilson Lima não pode controlar
- Wilson governa um Estado com 3,8 milhões de habitantes, metade vivendo na linha de pobreza. O confinamento, indispensável e urgente, colide com a necessidade da sobrevivência. O que Wilson nem ninguém pode controlar é a fome dessa gente.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, endureceu o discurso e ameaçou com prisão quem desrespeitar regras do confinamento. Wilson tem razão: a situação é gravíssima, a linha de contágio pelo coronavírus é crescente e ainda busca seu teto. Mas o governador precisa explicar onde vai colocar as pessoas que continuam circulando e que, segundo disse, receberão voz de prisão. As delegacias não podem estar entulhadas de gente, as celas devem ser higienizadas.
É ilusão supor que essas medidas, de higiene e necessárias para evitar o contágio de quem for preso, serão tomadas.
Wilson governa um Estado com 3,8 milhões de habitantes, metade vivendo na linha da pobreza. O confinamento, urgente e imprescindível, colide com a necessidade da sobrevivência. O que Wilson nem ninguém pode controlar é a fome dessa gente.
Com metade da população vivendo na informalidade, o discurso do “fique em casa” acaba ignorado.
De origem pobre, o governador dever saber o que significa ficar de estômago vazio. É com essa visão que ele deve e precisa tratar os cidadãos mais humildes.
Ficar fora das ruas é fundamental, mas o governo tem o dever de oferecer contrapartidas urgentes. Esperar 14 dias ou mais para a verba federal cair no bolso de quem vive na informalidade é exigir um insuportável sacrifício dos mais pobres.
ASSUNTOS: Amazonas, COVID-19, pandemia, respiradores, Coronavírus
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.