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'Estou revoltado com essa acusação maligna', diz vereador Siciliano após buscas em sua casa

Por Portal Do Holanda

14/12/2018 10h11 — em
Brasil


 Foto: Divulgação / Lucas Fernandes / CMRJ

RIO — Agentes da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) fizeram buscas no apartamento do vereador Marcello Siciliano (PHS), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na manhã desta sexta-feira. A informação foi confirmada pelo delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, titular da especializada. O gabinete de Siciliano — citado em delação como envolvido nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes — na Câmara dos Vereadores também foi alvo de buscas e apreensão. De acordo com assessoria da Casa, a sala está lacrada.

O secretário de Segurança Pública do Rio, Richard Nunes, disse que as buscas na casa de Siciliano têm relação com um inquérito da DPMA por construção irregular. Ainda de acordo com ele, essa investigação está relacionada a inquéritos paralelos do caso Marielle.

O vereador não foi encontrado em casa, mas chegou à  Cidade da Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte, por volta das 10h30m.

— Eu, sinceramente, não sei o que está acontecendo. Fui pego de surpresa. Estou aqui para tomar conhecimento. Estou revoltado com isso tudo e continuo indignado com essa acusação maligna que fizeram a meu respeito (sobre a delação) — disse Siciliano.

“Estou revoltado com isso tudo e continuo indignado com essa acusação maligna que fizeram a meu respeito”

O verador afirmou também que confia na Justiça e que está se colocando à disposição da polícia:

— Na primeira vez que me acusaram, estive na delegacia. E agora novamente estou aqui à disposição para o que for preciso. Tenho certeza de que no final disso tudo eles vão ver que foi uma baita covardia que tentaram fazer comigo. Eu quero que isso se resolva, pois a minha família está sofrendo e tenho certeza que a família da Marielle não merece isso, merece a verdade. E, eu acho que é a verdade que tem que vir à tona.

A mulher de Siciliano, Verônica Garrido, chegou de táxi à Cidade da Polícia. Ele deixou o edifício na Barra no mesmo momento que as equipes da DPMA.

— A busca foi feita na casa dela, então ela veio na qualidade de testemunha —  disse o delegado Antônio Ricardo, que não deu mais detalhes sobre as buscas alegando que o caso é sigiloso.

No apartamento do vereador, os policiais apreenderam um tablet, um computador, documentos e também um cofre, que foram levados para a sede da DPMA, também na Cidade da Polícia.

Em 6 de abril deste ano, Siciliano foi ouvido pelos investigadores da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

— Fui convocado a vir aqui prestar esclarecimentos para poder ajudar na linha de investigação que eles tomaram. Todos os vereadores foram chamados a vir aqui. Estou à disposição. A Marielle era uma pessoa da qual eu gostava muito. Sinto muito a perda dela e torço para que esse caso seja esclarecido — afirmou, na ocasião do depoimento.

Em 7 de junho, o vereador prestou um novo depoimento na DH. Ele foi ouvido durante quatro horas e meia na sede da especializada. Na saída, Siciliano afirmou que estava tranquilo.

Grilagem de terras

Em abril, O GLOBO publicou reportagem revelando que uma das linhas investigadas no assassinato da vereadora era justamente o apoio que ela dava a um coletivo de mulheres que lutava contra a verticalização da favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste, um projeto da prefeitura. A comunidade foi a primeira no município a ser controlada por um grupo paramilitar. Há informações de que as desapropriações planejadas pelo município, para fazer obras de saneamento básico no local, não eram vistas com bons olhos por milicianos. Muitos dos imóveis pertencem aos paramilitares. A prefeitura, no entanto, desistiu do plano.

Em outros pontos da Zona Oeste, milícias chegam a ocupar espaços públicos, como praças, e conjuntos habitacionais, como os do programa Minha Casa Minha Vida. A pedido do Ministério Público estadual, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco) abriu um inquérito no mês passado para investigar uma operação de despejo e demolição de casas no condomínio Village Atlanta, em Santa Cruz.

A reportagem mostrou que milícias estão expandindo, de forma ilegal, as áreas urbanas do Rio. Investigações da Secretaria de Segurança, das polícias Civil e Federal e do Ministério Público fluminense revelam que o mercado habitacional é o mais novo segmento explorado por essas organizações criminosas. Inquéritos mostram que há milicianos envolvidos em grilagem, remoções, obras e até corretagem imobiliária. Diante da falta de terrenos para construção em vários bairros da Zona Oeste, as quadrilhas avançam sobre áreas de proteção ambiental, que são desmatadas para abertura de loteamentos ou usadas para extração de pedra e saibro.

Além dos lucros obtidos com a venda e o aluguel de imóveis irregulares, as novas ocupações proporcionam um crescimento das atividades que rendem uma fortuna para as milícias, como cobrança de taxas de proteção, oferta de sinal clandestino de TV a cabo, venda de botijões de gás e exploração do transporte alternativo.

Crime planejado desde 2017

Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", o secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, afirmou que o assassinato de Marielle estava sendo planejado desde o fim do ano passado. Para ele, "os criminosos superestimaram o papel que a vereadora poderia desempenhar". Segundo o secretário, Marielle "estava lidando em determinada área do Rio controlada por milicianos, onde interesses econômicos de toda ordem são colocados em jogo. No momento em que determinada liderança política, membro do legislativo, começa a questionar as relações que se estabelecem naquela comunidade, afeta os interesses daqueles grupos criminosos".

Ainda de acordo com o general Richard, a polícia precisa provar essa tese. "A milícia atua muito em cima da posse de terra e assim faz a exploração de todos os recursos. E há no Rio, na área oeste, na Baixada de Jacarepaguá problemas graves de loteamento, de ocupação de terras. Essas áreas são complicadas". afirmou.

Vazamento de operação

A Polícia Civil desconfia do vazamento de uma operação nesta quinta-feira para prender suspeitos de participação no assassinato de Marielle.  A ação, que tinha o objetivo de cumprir 15 mandados de prisão, aconteceu no Rio e em Juiz de Fora, Minas Gerais. Autoridades se recusaram a fazer um balanço ou dar informações sobre as buscas, mas O GLOBO apurou que um dos alvos era um especialista em clonagem de veículos . Investigadores suspeitam que foi ele quem preparou o Cobalt prata usado pelos autores do crime, praticado no dia 14 de março no Estácio.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Marcelo Siciliano, marielle, rio de janeiro, Brasil

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