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Para filósofo da Unicamp, Temer se preparou para guerra e PSDB lavou as mãos

Por Agência O Globo

03/06/2017 19h06 — em
Brasil



Para o filósofo da Unicamp Marcos Nobre, se Temer sobreviver ao mês de junho, não cairá mais. Mas também não será capaz de fazer as reformas e viverá crises agudas a cada dois meses.

Está claro que a política está travando a economia e que a economia só vai voltar a funcionar quando houver estabilidade política. Nos últimos dois anos e meio o sistema político perdeu o controle da política, o que é muito grave. Temos um sistema político encurralado pelo Judiciário. Para retomar estabilidade política hoje, é preciso um governo que não esteja o tempo todo ameaçado por uma nova revelação comprometedora. E esse governo não é o governo Temer. Se o Temer ficar, a instabilidade será permanente, com crises agudas a cada dois meses.

O Centrão só ganhou densidade e uma certa homogeneidade por causa do Cunha. Ele percebeu que se organizasse o Centrão daria para usar (para controlar o poder). Desde que o Temer assumiu, o projeto dele foi desmontar o Centrão, que estava muito poderoso.

A lógica do peemedebismo é a lógica da fragmentação, para não deixar ninguém ter uma posição de hegemonia. O PMDB é uma empresa de venda de apoio parlamentar. Isso significa também que o PMDB não tem condição de governar porque para governar você precisa coordenar e o PMDB não tem tecnologia para coordenar governo.

O que o Temer está tentando fazer é sobreviver até o fim de junho, porque aí há o recesso do Judiciário e, em meados de julho, o recesso do Congresso. O cálculo de sobrevivência desse governo é muito simples. Se chegar até agosto, não cai mais, por conta da proximidade do calendário eleitoral. Por isso o Temer está alardeando que as reformas estão andando, porque é um faz de conta necessário para enrolar esse mês.

Só há duas forças que podem se opor a esse projeto continuísta. Em primeiro lugar, as ruas. Mas a impressão que dá é que esse tempo de um mês é curto demais para o movimento ganhar a massa e o volume que precisaria para poder derrubar o Temer. O segundo elemento é o PSDB. O destino do governo Temer hoje está nas mãos do PSDB.

O PSDB está adotando uma estratégia suicida, porque vai cair no colo dele a fatura pelas crises e impopularidade do governo Temer. Há um impasse e o PSDB está paralisado no momento em que sua própria existência está em causa, acreditando que está mantida sua posição natural de líder.

O candidato presidencial do partido em 2014, Aécio Neves, teve o mandato de senador suspenso e está ameaçado de ser preso a qualquer momento. Isso é uma ameaça evidente pro partido. A única saída para o PSDB perante seu eleitorado — essa elite mais esclarecida — seria retirar seu apoio ao governo e forçar o Temer a se retirar, oferecendo evidentemente uma alternativa de sustentabilidade. Mas para isso o PSDB teria que colocar a mão na massa.

Porque não está conseguindo unidade. De um lado, Aécio foi o grande fiador da entrada do PSDB no governo Temer e continua a ser seu maior defensor. De outro lado, o diretório de São Paulo está em pânico porque sabe que vai ser castigado na próxima eleição pelo que estão fazendo.

O Temer se pintou para a guerra. A nomeação quer dizer que a vida desse governo vai ser decidida no julgamento do TSE, então ele precisa de alguém que entenda de legislação eleitoral, que converse com cada ministro e saiba como eles pensam. O PSDB está lavando as mãos porque empurrou para o TSE a decisão. Pode-se dizer que o julgamento é técnico, mas se o TSE vir que existe uma alternativa ao governo Temer que se formou e se consolidou e que é possível cassar a chapa porque vai ter uma alternativa, eles vão fazer isso.

Não. Quando o PSDB tentou fazer as conversas para a substituição do Temer, incluiu o próprio Temer nas negociações. Nunca vi alguém querer substituir um sujeito que está na presidência e convidá-lo para conversar sobre o assunto. E o surrealismo inclui trazer o José Sarney para a mesa. Sarney foi ressuscitado porque é especialista em governo que não consegue governar, que é o que vai acontecer com o Temer. Outro lance político fatal do PSDB foi fazer acordo com o DEM. Com isso, os tucanos colocaram o Rodrigo Maia em uma posição muito estratégica.


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