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Dólar passa de R$ 3,50, mas fecha abaixo de R$ 3,40 após três leilões do BC

Por Agência O Globo

11/11/2016 18h07 — em
Economia



RIO - Após a disparada de 5% na véspera, o dólar comercial voltou a registrar forte valorização nesta sexta-feira. A divisa americana chegou a ultrapassar a cifra de R$ 3,50, em movimento de aversão a riscos após a eleição de Donald Trump nos EUA que impactou países emergentes por todo o mundo hoje. Mas uma série agressiva de intervenções do Banco Central conseguiu contar a alta da moeda, fazendo-a fechar cotada a R$ 3,394, com valorização de 1,01%. A autoridade monetária voltou a fazer os chamados leilões de swap cambial tradicional — que equivale à venda de dólares no mercado futuro e serve para enfraquecer a moeda —, recurso que não utilizava desde 29 de setembro do ano passado. O BC fez dois leilões desse tipo hoje, em uma intervenção de US$ 1 bilhão. Além disso, a autarquia também promoveu leilão para rolar swaps que estavam para vencer.

No mercado acionário, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,3%, a 59.183 pontos, menor patamar desde 30 de setembro. Na semana, o Ibovespa caiu 3,92%, sua segunda queda consecutiva nesse tipo de comparação. No mês de novembro, a Bolsa brasileira acumula 8,84% de perdas.

Pouco antes do meio-dia, o BC realizou leilão de 15 mil contratos de swap tradicional (US$ 750 milhões), equivalente à venda futura de dólares. A moeda recuou um pouco, mas alguns especialistas avaliavam que estava mais relacionada a negócios que antecedem a abertura do mercado americano. Com a divisa retomando a alta e renovando a máxima, a R$ R$ 3,508, às 14h41 o BC informou que faria uma nova intervenção e iniciou o leilão nove minutos depois, com a oferta de 20 mil contratos de swap tradicional. Só cerca de metade deles foi colocada e às 15h20 a autarquia fez novo chamamento para o residual. A última vez que o BC fez três intervenções em um dia foi 23 de setembro do ano passado.

— Foi boa a atuação, pois veio bem quando a divisa chegava a nova alta — diz Raphael Figuerado, analista da Clear Corretora, frisando que imediatamente a cotação caiu para R$ 3,44. — O Banco Central foi agressivo, quis atuar, e fez com que o dólar voltasse para perto da mínima do dia, que foi de R$ 3,372.

Em evento no Chile, contudo, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta sexta-feira que o câmbio flutuante é uma importante ferramenta e repetiu que o BC somente reduzirá o estoque de swap tradicionais quando as condições de mercado permitirem.

Ítalo Abucater, gerente de câmbio da Icap do Brasil, lembra que o “ataque” às moedas é global, com receios das tendências protecionistas do novo presidente americano. Abucater frisa ainda que, antes da vitória de Trump, o real tinha uma “gordura” em relação a outros emergentes, mas o diferencial, agora, já é pequeno. A rúpia, da Indonésia, caiu 3%, para seu menor patamar em cinco meses, levando o BC do país a intervir. O ringgit, da Malásia, perde 1,44% e está no menor nível desde janeiro. A rúpia indiana perdeu 0,7%, ao menor valor em mais de dois meses, e o BC do país passou a vender dólares. O peso mexicano perdeu 2,62% Outros emergentes também recuam: o won sul-coreano, o rand sul-africano e o zloty polonês caíram mais de 1%.

 

Diante da possibilidade de elevação de juros nos EUA, que significaria fim da linha para o dinheiro barato que vinha ajudando a fortalecer moedas de países emergentes como o real brasileiro, investidores passaram a retirar seus recursos do país. Além disso, houve fluxos de saída para cobrir prejuízos em outras partes do mundo.

A alta do dólar já ameça o ciclo de redução dos juros no Brasil. Até a turbulência que se instalou depois da eleição de Trump, a expectativa era de um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião, no final deste mês, do Comitê de Política Monetária, após redução de 0,25 ponto percentual na última reunião, no início do mês passado. A Selic, referência para os juros no Brasil, está em 14%.

— Se o dólar não cair, o BC pode nas próximas semanas dar indicação de que vai manter o gradualismo (nos cortes dos juros). Isso muda toda a curva e o cenário para o ano que vem — afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, à agência Reuters.

Para a semana que vem, a expectativa é de mais volatilidade, diz Figueredo, com o efeito Trump e os eventos da agenda externa — divulgação da atividade na China, na Europa e no Reino Unido — e da interna — primeira votação em plenário no Senado da PEC dos Gastos.

— Haverá mais incerteza, o mercado ficará mais cauteloso — afirma o especialista.

 

A Bovespa passou o dia à mercê da instabilidade do câmbio. A Petrobras fechou em queda, depois de anunciar prejuízo. As ações ON (ordinárias, com direito a voto) perderam 5,82%, a R$ 16,33, e as PN (preferenciais, sem direito a voto), 9,61%, a R$ 14,01.

No, setor bancário, o mais importante do Ibovespa, o Banco do Brasil perdeu 6,93%; o Bradesco fechou em alta de 0,17%, e o Itaú recuou 1,28%.

Apesar da alta do dólar no Brasil e da disparada do minério de ferro no mercado internacional, a Vale caiu 3,31% (ON) e 5,18% (PN). O minério de ferro avançou 7,68% no porto de Qingdao, na China. Em cinco dias, a commodity acumula ganho de 22,78%.

Grandes exportadoras continuam subindo na esteira da disparada do dólar. Suzano avançou 4,98%. A Fibria, 7,67%. Klabin, 4,29%.

Ontem, a Bolsa brasileira fechou com desvalorização de 3,2%, maior recuo em dois meses. Com a depressão que se seguiu à vitória de Trump, o valor de mercado das empresas listadas caiu R$ 71,6 bilhões. Na quarta-feira (9), elas somavam R$ 2,46 trilhões. Ontem, fecharam com valor de R$ 2,39 trilhões, conforme a provedora de dados Economática.

Nos EUA, o Dow Jones subiu 0,21%, após atingir recorde ontem. A Nasdaq avançou 0,54%. O S&P 500 perdeu 0,14%. Na Europa, as Bolsas fecharam com sinais mistos. O FTSE 100, de Londres, perdeu 1,43%. O CAC 40, de Paris, 0,92%. O Dax, de Frankfurt, ganhu 0,36%.

 

Depois do fechamento do mercado, ontem, o BC anunciou a retomada das intervenções no mercado, interrompidas para evitar pressão adicional no câmbio. A autoridade monetária voltará a ofertar contratos de swap cambial tradicionais, que equivalem a uma venda de moeda americana no mercado futuro e, por isso, funcionam com um seguro contra a alta nas cotações. No entanto, a autarquia indicou que isso é momentâneo, e a estratégia de zerar os estoques de swaps no mercado continua.

 

Os mercados chineses atingiram nova máxima de dez meses nesta sexta-feira, com a alta nos setores de matérias-primas e infraestrutura ajudando a elevar a confiança em todos os setores. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, subiu 0,78% e o índice de Xangai também teve alta de 0,78%, para 3.196 pontos, a máxima desde 8 de janeiro. O índice MSCI, que reúne ações da região Ásia-Pacífico com exceção do Japão, recuava 1,64%. Em Tóquio, o Nikkei avançou 0,18%. Em Hong Kong, o Hang Seng caiu 1,35%.


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ASSUNTOS: cotação, dólar, real, Economia

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