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Faltam políticas para qualificar desempregados

Por Agência O Globo

09/09/2017 19h09 — em
Economia



RIO - O Brasil desperdiçou o momento da bonança e não investiu em mão de obra, tanto na educação básica quanto na qualificação, afirma o economista da Unicamp Claudio Dedecca, especialista em mercado de trabalho, o que resultou na baixa produtividade do país, que está estagnada desde os anos 1980, crescendo menos de 1% ao ano. Segundo dados do Conference Board, a produtividade do trabalho do Brasil cresceu apenas 9,5% entre 2000 e 2015, enquanto vizinhos como Peru (36,8%) e Chile (19,8%) viram seus índices avançarem mais.

Para Dedecca, os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) poderiam ser usados para treinar trabalhadores. Mas a situação de desemprego de longa duração dificulta o processo de qualificação: sem emprego e, consequentemente, sem renda, fica mais difícil investir em cursos técnicos:

— A tradição é que se fortaleça o mercado de trabalho por meio de duas políticas públicas. De um lado, a educação geral, por meio do sistema formal de educação. Isso está sendo feito. O grande debate é sobre a qualidade do ensino. De outro, são os mecanismos para reciclar o trabalhador, feitos pelo próprio sistema público de emprego.

Para o economista, deveria ter sido feito investimento pesado com recursos do FAT:

— A questão é que, desde 2007, mesmo durante o período de crescimento, quando o FAT tinha mais recursos, o governo privilegiou e transformou as políticas de emprego num processo de barganha política dentro do Ministério do Trabalho. E isso nos custa nesse exato momento.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, 23,9% dos trabalhadores na ativa têm somente o ensino fundamental incompleto. Isso representa um contingente de 21 milhões de pessoas com esse grau de instrução. Quase a metade (43%) tem até o ensino médio incompleto. Sem qualificação da mão de obra, a recuperação da atividade econômica pode ser comprometida. O próximo boom do mercado de trabalho pode ter empregados pouco qualificados e menos produtivos, o que fará a produtividade continuar estagnada, alerta Dedecca:

— Vai ser uma recuperação baseada num mercado de trabalho fraco. O crescimento passado gerou muito emprego, mas lastreado num mercado de baixa qualificação. Foi um crescimento medíocre da produtividade que teve como consequência parte da perda de fôlego do crescimento.

Enquanto as políticas públicas não se voltam para recolocação dos desempregados, o caminho é buscar por conta própria uma estratégia. Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Estado do Rio (ABRH-RJ), diz que uma opção é investir em cursos de curta duração no sistema Firjan ou Fecomércio, que são subsidiados:

— Alguém que perca o emprego, dependendo da atividade, tem um custo alto para investir em mais treinamento e se manter atualizado. Procurar trabalhos temporários, mesmo na informalidade, também é um caminho para não ficar defasado.

Outra medida é atualizar, ao menos de seis meses em seis meses, os currículos em agências e empresas. Os recrutadores, segundo Sardinha, costumam dispensar os documentos enviados depois de algum tempo.

Outra dificuldade é o desmonte na rede de contatos:

— Os que continuam empregados estão menos disponíveis. Enviar mensagens de três em três meses e usar redes sociais ajudam nessa hora.

Consultado sobre as políticas públicas para combater o desemprego de longa duração, o Ministério do Trabalho não respondeu.


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