Compartilhe este texto

Com entrada em Tóquio-2020, escalada esportiva terá orçamento 40 vezes maior

Por Agência O Globo

20/01/2018 19h01 — em
Esportes



O patrimônio da ABEE (Associação Brasileira de Escalada Esportiva), órgão que surgiu apenas em 2014, se resume a uma impressora, comprada em 2017. Sua sede funciona na casa da presidente e diretora executiva Janine Cardoso, de 43 anos, ex-atleta, modelo nas horas vagas e jornalista de aventura, no bairro do Alto da Boa Vista, em São Paulo. Nem computador nem o telefone pertencem à entidade. Mas isso vai mudar: ao lado do caratê, beisebol/softbol, skate e surfe, a escalada esportiva passou a integrar o programa olímpico de Tóquio-2020. E com isso, o orçamento anual de R$ 18 mil, oriundo basicamente das taxas de inscrições de campeonatos nacionais, saltará para mais de R$ 720 mil, por causa do incentivo da Lei Agnelo Piva.

Janine poderá alugar uma sala na Zona Sul de São Paulo, criar uma comissão técnica, levar atletas aos torneios no exterior e pagar salários aos voluntários de sua diretoria, além de si mesma.

— É preciso profissionalizar o esporte, do atleta aos que fazem as competições acontecerem. Hoje, realizamos eventos em parceria com os ginásios de escalada, que não nos cobram nada. Quando dá lucro, dividimos os valores. Mas quando dá prejuízo também — comenta ela que já botou muito dinheiro do bolso na ABEE. — Agora vamos olhar os detalhes.

A ABEE nasceu em 2014 como uma dissidência da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME). Na época, a CBME se viu sem verba para pagar a filiação duas federações internacionais, as rivais UIAA (alpinismo e escalada) e IFSC (escalada). Optou pela primeira. Já a ABEE manteve o compromisso com a federação internacional, agora parceira do Comitê Olímpico Internacional (COI). Por isso, a ABEE foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e terá orçamento 40 vezes maior do que em 2017.

Jorge Bichara, gerente de Performance Esportiva do COB, explica que essa é uma mudança radical e que há a possibilidade de a entidade cometer equívocos. Por isso, na última semana, o COB deu treinamento para a ABEE e para as outras quatro entidades nacionais que terão suas modalidades em exibição nos Jogos de Tóquio. Entre todas elas, a escalada é a mais amadora. Além da realidade financeira, nunca esteve presente no movimento olímpico nem pan-americano.

— A preocupação existe e por isso fizeram workshop que as introduziu no sistema de captação e mostrou as regras para a utilização dessa verba e prestação de contas. Queremos que usem o que há disponível em sua totalidade com foco em 2020 pois não estão garantidas em 2024. Mas, cada uma será percebida em sua particularidade.

Com cerca de R$ 18 mil, a ABEE não faz nada além de manter a filiação com a IFSC e organizar quatro torneios por ano, dois adulto e dois juvenil, com as modalidades mais populares no país, o boulder e o lead (dificuldade). Janine, que espera utilizar a verba federal a partir de em fevereiro, explica que esse orçamento vem de receitas com eventos nacionais e da anuidade dos cerca de 110 atletas que pagam taxa de R$ 140. Os principais polos estão em São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Janine acredita que será possível ter ao menos um atleta em Tóquio. Os mais cotados são Felipe Ho (SP), Cesar Grosso (mora em Arco, Itália) e Jean Ouriques (BH), os três primeiros do ranking brasileiro de dificuldade. Jean e Felipe também estão em 2º e 3º na lista de boulder. Serão 20 vagas para cada gênero. As seletivas mundiais começarão em 2019 e as regras ainda serão divulgadas.

— A chance é se tiver vaga continental — diz Ho, de 18 anos, que evita falar sobre a programação com o auxílio da verba das loterias. — Tenho esperança de que vai sair e que será um ano com mais competições internacionais. Mas como isso depende de gente que não conheço, eu só acredito vendo. Então, tenho um plano B.

Ele pratica escalada desde os 6 anos e com 12 disputou o primeiro campeonato, o Brasileiro Juvenil de boulder. Foi o campeão.

Em 2017, a ABEE chegou a pagar suas inscrições para o Pan-americano Juvenil, no Canadá, algo inédito para a entidade (ele terminou em 5º em dificuldade, 23° em velocidade e 11º em boulder). Essa foi a primeira vez que ele disputou a prova de velocidade, em bloco oficial e que é igual em todo o mundo.

— Não fui bem, claro. Na América do Sul só há um bloco homologado, que é na Venezuela. Essa é a modalidade menos praticada no mundo — explica Ho, que também viajou para a Itália, onde ficou em 49º em dificuldade na Copa do Mundo.

Em 2018, ele, que nunca teve patrocínio e depende da ajuda dos pais, quer repetir a estratégia de 2017, quando cursou um semestre de Odontologia na USP e trancou o outro para competir:

— Como meus pais estão desempregados, não aguentam mais essa história de “paitrocínio”.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Esportes

+ Esportes