Manaus/AM - Uma em cada quatro meninas no mundo sofre algum tipo de violência sexual durante a sua vida. Entre os meninos, essa estimativa é de um em cada seis garotos, segundo os especialistas internacionais nesse tema. O pior é que 90% dessas vítimas nunca falam nada a respeito. Os dados foram citados na última sexta-feira (17) pela coordenadora da Coordenadoria da Infância e Juventude (COIJ), juíza Rebeca de Mendonça Lima, durante o lançamento da campanha pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) alusiva ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado em 18 de maio.

A iniciativa é da 2ª Vara Especializada em Crimes contra a Dignidade Sexual de Crianças e Adolescentes da Comarca de Manaus, com apoio da Coordenadoria da Infância e Juventude (COIJ) e da Corte Estadual de Justiça. O foco principal da campanha será a escola e os professores. De acordo com a juíza da 2ª Vara Especializada, Articlina Oliveira Guimarães, em torno de 70% dos casos de abuso e de violência sexual contra crianças e adolescentes acontecem no ambiente familiar, com atos praticados por pessoas próximas à vítima. 

Erika Alencar, psicóloga da 2ª Vara Especializada em Crimes contra a Dignidade Sexual de Crianças e Adolescentes, disse que, em muitos relatos feitos aos profissionais da unidade judicial, as vítimas acabam contando sobre o que sofreram a um colega da escola porque a violência sexual ocorreu em casa e nem sempre os familiares acreditam ou oferecem o apoio necessário. “Já tivemos casos em que a professora ficou sabendo de uma situação de abuso, depois a gestora da escola, que levou o problema ao Conselho Tutelar, que repassou à delegacia. Então é importante esse encorajamento para que as crianças saibam o que fazer, a quem recorrer”, acrescentou.

Dentre as ações da campanha será promovido um concurso de texto livre, desenho, vídeo e cartinhas para que a criança seja incentivada a entender o assunto. “Ela vai pesquisar sobre o tema, assistida pelo professor, que irá trabalhar esse assunto com os alunos, que é complexo... vamos trabalhar também com os adolescentes mostrando os perigos existentes na internet no que diz respeito ao abuso e exploração sexual infantil. Dentro da escola é lugar mais importante para estarmos nessas campanhas, pois o professor pode nos ajudar nesse trabalho de prevenção. A maioria das denúncias se inicia com a ajuda da escola”, explicou a juíza Articlina Guimarães.

A coordenadora da Infância e Juventude do TJAM, juíza Rebeca de Mendonça Lima, que também é titular do Juizado da Infância e Juventude Cível, lembrou que esse tipo de crime “não deixa vestígios”. “A sociedade precisa se conscientizar que esse problema é de todos nós porque pode estar acontecendo dentro na nossa casa. Infelizmente, cerca de 70% dos casos acontecem dentro da própria família e é preciso falar. E as crianças se sentem inibidas porque têm medo de serem punidas e que não acreditem nelas”, afirmou a magistrada.