‘A Caminho da Lua’ e os estágios do luto | Crítica
Como seguir em frente depois de perder um grande amor?
‘A Caminho da Lua’ é a nova animação da Netflix que chegou como uma bomba e conta muito mais do que diz a sua sinopse oficial: Determinada a comprovar a existência de uma deusa, a jovem Fei Fei decide usar todo seu conhecimento em ciência para embarcar em uma incrível missão: construir um foguete e ir até a Lua! Ao chegar lá, ela se depara com uma terra mágica e suas criaturas fantásticas. O primeiro passo é acreditar.
Aliás, devo adiantar que o resumo não chega nem perto sobre o que é verdadeiramente o filme. O longa fala explicitamente de todos os cinco estágios do Luto (Negação, Raiva, Negociação/Barganha, Depressão e Aceitação), em diversas visões diferentes.
Os primeiros 15 minutos contam a história que levará a criança até o luto pela perda de sua mãe. Não se sabe ao certo como foi, mas fica bem explicitado que era algo esperado. E é bem aí que você chora pela primeira vez (e sim, você ainda vai chorar muito).
Quatro anos se passam, a criança cresce e acha que aceitou a partida da mãe. Já o pai consegue seguir em frente e arranja uma nova namorada, que a menina odeia, é claro.
Um olhar um pouco mais atento percebe que Fei Fei não aceita uma mulher na vida dela que não seja a mãe.
Ela quer então provar que o amor verdadeiro resiste ao tempo que for e constrói um foguete para ir até a Deusa Chang’e, famosa por esperar seu amado por três mil anos (conta a lenda que ela foi separada de Houy, que morreu na Terra, enquanto ela é imortal na Lua).
Quando chega à Lua (e ainda com um intruso novo meio-irmão a bordo), Fei Fei recebe um show de luzes, literalmente: Chang’e faz um apresentação muito K-Pop e logo mostra uma outra face, nada gentil e romântica do começo: ela é pura raiva junto com a barganha.
A analogia da tristeza profunda está especialmente na ‘Câmara da Extraordinária Tristeza’, a parte do luto em que se isola e a alegria e o colorido todo se se apaga. Uma fala chama demais a atenção: “Não tente entrar, você pode nunca mais sair ou voltar pra casa”. Não há como ser mais explícito que isso.
Como em toda animação feita para crianças, a força da amizade e da empatia vencem e tudo termina bem para todes. E não é isso que precisamos?
“Só há um jeito de a vida prosseguir. Se você abrir seu coração, o amor virá, então.
Você merece encontrar a sua família, e o caminho é se abrir pro amor.
É um sentimento seu, o amor nunca morre, ele só cresce, aonde você for.
Só há um jeito de acalmar a dor: É se abrir para alguém novo”
'Para alguém novo' é a Deusa cantando para Fei Fei e não há nada de relacionamento amoroso nisso: ao mesmo tempo que escutamos, o meio-irmão está do outro lado, tentando a todo custo entrar na Câmara.
Essa parte das um milhão de canções (afinal, é um musical) resume as perdas tanto da menina quanto da Deusa. Enquanto uma deve aceitar uma nova família, a outra precisa entender que o amor acabou: sem que ela tenha percebido, Houyi já tinha outra pessoa há muito tempo.
Falando sobre o desenho, a vontade é de ter todos as visões do Espaço dentro do quarto: nebulosas, a Lua e até a Constelação de Pégaso é fielmente retratada, não devendo nada aos ilustradores da Nasa.
Porém, há uma aparência de certa preguiça em relação aos personagens, ou nos acostumamos a detalhes tão fortes como o mexer dos cabelos com a Pixar?
A direção é de Glen Keane, cineasta e animador vencedor do Oscar®, e a produção de Gennie Rim e Peilin Chou.
Não importa a idade nem o tipo de término: 'A Caminho da Lua' é filme obrigatório para quem sofre luto.
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Átila Simonsen
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