Centrão fecha apoio a Alckmin e apresenta pauta de reivindicações
BRASÍLIA — Em encontro com o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, o centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) fechou um acordo para apoiar o tucano para a Presidência da República. Dirigentes saíram do encontro afirmando que aliança está consolidada. O anúncio formal será feito na próxima semana.
— Já está fechado — disse o presidente de um dos partidos.
Na reunião, o centrão levou uma pauta de reivindicações como condição para fechar uma aliança, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. Dirigentes das siglas discutiram a possível formação de um governo e saíram do encontro afirmando que agora apenas levarão a posição às instâncias regionais dos partidos para resolverem eventuais divergências nos palanques.
Os partidos querem algumas garantias para anunciar o apoio ao tucano, que já é dado como certo entre alguns dirigentes das agremiações. Alguns parlamentares já foram até mesmo avisados de que chegou-se a um entendimento.
O GLOBO obteve relatos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina de que o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, telefonou para algumas lideranças comunicando a aliança com Alckmin. Nogueira nega publicamente o acordo e diz que o bloco partidário decidiu que a decisão sobre o apoio só será anunciada na próxima quinta-feira.
Apesar da proximidade de dois partidos do centrão — PP e Solidariedade — com a pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), ambas as legendas aceitam bandear-se para o lado de Alckmin. O movimento depende de uma velha moeda de troca da política real: a distribuição de cargos e verbas. O chamado "centrão" representa 164 deputados e 2 minutos e 35 segundos no tempo de rádio e TV durante a propaganda eleitoral.
Um dos itens apresentados na reunião foi uma condição de Paulinho da Força (SD-SP): o compromisso de um novo modelo de financiamento de sindicatos. Com o fim do imposto sindical, que obrigava os trabalhadores a contribuir com as associações, a fonte de dinheiro de seus colegas começou a secar. Paulinho, o principal dirigente da legenda, é oriundo da Força Sindical e defende o interesses dos grupos organizados. Segundo um dos participantes, Alckmin aceitou discutir o assunto.
O PP teve a garantia de que manterá espaços importantes. O presidente da legenda resistia a um acordo com Alckmin por conta de problemas no seu palanque eleitoral, no Piauí, onde ele é ligado ao PT. Mas a posição de Ciro Nogueira nunca foi unânime dentro do PP, tanto que a ala governista atuou em favor de uma aliança com Alckmin.
O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), esteve com o presidente Michel Temer antes de embarcar para São Paulo, onde foi o representante do PP no encontro com o tucano. Ao arriscar-se neste fim de ano, o PP poderia abrir mão de um verdadeiro latifúndio: ministérios da Agricultura, Cidades e Saúde, além da presidência da Caixa Econômica, já que o Planalto pressionou publicamente a legenda a não apoiar Ciro Gomes, candidato que trata o presidente como "bandido".
O jantar de quarta-feira e o café desta quinta-feira serviram para que os cinco partidos do "centrão" fechassem a pauta. Neste contexto, o pragmatismo do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que controla o PR, foi fundamental. Ele explicou que o maior interesse do PR sempre foi eleger uma grande bancada de deputados. O mesmo interesse dos demais, que viram a base de qualquer governo e ainda fazem o presidente da Câmara.
Neste contexto, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que queria apoio a Ciro, foi convencido e agora deve lutar para se eleger novamente deputado e chefe da Câmara.
DORIA TERÁ VICE DO DEM
Nesta sexta-feira, a cúpula do DEM participará de um evento em São Paulo para anunciar o líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia, como vice da chapa do PSDB de João Doria, pré-candidato a governador de São Paulo.
Os partidos rejeitam a pecha de que estão negociando cargos, espaços ou verbas. Alegam que a demonstração disso é a escolha do empresário Josué Gomes para o cargo de vice.
‘Alckmin está satisfeito que terá nosso apoio, está tudo praticamente certo’
- DIRIGENTE DO "BLOCÃO"sobre reunião com candidato tucano
Filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué nunca encontrou resistência na campanha tucana para ocupar a vaga de vice. Em conversas reservadas, Alckmin fala bem do empresário e considera que ele tem um perfil que agrega politicamente à chapa tucana por ser um nome novo na política. Essa característica seria uma vacina para a imagem de Alckmin de político tradicional.
— Alckmin está satisfeito que terá nosso apoio, está tudo praticamente certo. Agora, cada partido vai fazer seu dever de casa, conversar internamente — disse um dos dirigentes do "centrão".
O deputado do PP Jerônimo Goergen, afirmou que a escolha de Alckmin é um "alívio" para os filiados do partido no Rio Grande do Sul.
– Ficamos todos aliviados com a notícia porque tínhamos medo de que o partido fosse com Ciro. A linha política do Alckmin é muito mais confortável para nós, do que a do Ciro.
VERBORRAGIA ATRAPALHOU
Antes do encontro com Alckmin, os partidos se reuniram e avaliaram que não era possível confiar em Ciro Gomes. Segundo um dos dirigentes, o comportamento de Ciro, sua verborragia foram cruciais para que o pêndulo voltasse a balançar para o lado de Alckmin. Os tucanos e parte do DEM armaram uma força-tarefa para reforçar esse entendimento de que Ciro Gomes não era confiável e que não tinha " filtro". Segundo um parlamentar experiente, "prevaleceu o bom senso".
Eles não gostaram das declarações de Ciro sobre uma promotora e avaliaram que ele é “incontrolável”.
Tucanos e democratas ligados à Alckmin dizem que o clima mudou.
— Revertemos o jogo. Se fosse hoje, o anúncio seria de apoio a Alckmin — disse um integrante do DEM.
O chamado "blocão" foi uma articulação de Rodrigo Maia para reunir os partidos de centro e fazê-los ter um único candidato na eleição presidencial de 2018.
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