Ramagem diz ter 'apreço' da família Bolsonaro, mas nega 'intimidade'
O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou nesta segunda-feira (11) em depoimento que tem o "apreço" da família do presidente Jair Bolsonaro, mas negou ter "intimidade".
Segundo um site de notícias do Globo, ele disse ainda que foi consultado pelo presidente e pelo ministro da Justiça, André Mendonça, sobre as qualificações profissionais do delegado Rolando Alexandre, escolhido por Bolsonaro para comandar a Polícia Federal.
Ramagem prestou depoimento à PF em Brasília no inquérito autorizado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar suposta tentativa de interferência de Bolsonaro no órgão.
O inquérito foi aberto a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), após o então ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciar a demissão do cargo alegando que houve interferência política de Bolsonaro na PF.
Ramagem chegou a ser nomeado novo diretor-geral da PF no lugar de Maurício Valeixo, demitido do cargo por Bolsonaro. Mas o ministro Alexandre de Moraes, do STF, barrou a nomeação por entender que houve desvio de finalidade.
"[Ramagem disse] que o depoente [Ramagem] tem ciência de que goza da consideração, respeito e apreço da família do presidente Bolsonaro pelos trabalhos realizados e pela confiança do presidente da República no trabalho do depoente, mas não possui intimidade pessoal com seus entes familiares", afirmou Ramagem no depoimento.
"[Ramagem também disse] que no entender do depoente, o motivo da sua desqualificação, portanto, foi o fato deste não integrar o núcleo restrito de delegados de Polícia Federal próximos ao então ministro Sergio Moro, uma vez que, diante dos fatos ora relatados, não haveria um impedimento objetivo que pudesse conduzir à rejeição de seu nome", acrescentou.
Em seguida, ele disse que o presidente lhe consultou sobre a indicação de Rolando Alexandre.
"Que indagado se foi consultado a respeito das qualificações profissionais do DPF Rolando Alexandre enquanto possível indicado para o cargo de diretor-geral, respondeu que sim, tendo sido questionado a respeito, tanto pelo presidente da República como pelo ministro da Justiça, André Mendonça", disse Ramagem no depoimento.
Sobre a proximidade dos dois, Ramagem disse: "Que nesta confraternização, que não foi uma festa, porque os policiais estariam muito cedo prontos para o trabalho, estavam apenas familiares [...], oportunidade em que o vereador Carlos Bolsonaro passou no local para saudar os policiais pelo trabalho executado, pois no dia seguinte se encerraria a segurança provida pela Polícia Federal com a transmissão do trabalho para o Gabinete de Segurança Institucional - GSI".
Para Ramagem, a "desqualificação" dele para o cargo de diretor-geral da PF ocorreu "através de argumento inverídico de intimidade familiar nunca antes tido como premissa ou circunstância, apenas como subterfúgio para indicação própria sua de pessoas vinculadas ao seu núcleo diretivo de sua exclusiva escolha".
Durante o depoimento à PF, Alexandre Ramagem negou que houve algum pedido, por parte de Bolsonaro, de relatórios de inteligência que dissessem respeito a "questões tratadas na Polícia Federal como matéria sigilosa".
"[Ramagem também disse] que nunca foi pedido pelo presidente da República informação ou relatório de inteligência sobre fato específico investigado sob sigilo pela Polícia Federal", acrescenta o depoimento.
O diretor-geral da Abin afirmou também que não haveria missão específica à frente da PF, mas de cumprimento da gestão do Departamento de Polícia Federal "da melhor forma possível".
"[Ramagem acrescentou] que o presidente da República nunca chegou a conversar com o depoente, sob a forma de intromissão, sobre investigações específicas da Polícia Federal que pudessem, de alguma forma, atingir pessoas a ele ligadas".
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