Cientistas confirmam variante inédita do coronavírus no Amazonas

A variante inédita do novo coronavírus encontrada em viajantes japoneses tem origem no estado do Amazonas, confirmou a pesquisa em andamento da Fiocruz Amazônia nesta terça-feira, 12.
O estudo identificou que a linhagem B.1.1.28 está presente em todo o País, e é a mais frequente do novo coronavírus no Amazonas, tendo sofrido uma série de mudanças preocupantes.
“Os japoneses colocaram os dados do sequenciamento no banco de dados internacional, e as amostras colhidas agrupam com as nossas aqui. É o mesmo vírus, mas com muitas mutações.”, informou Felipe Navega, coordenador dos estudos.
Os cientistas associam a nova cepa, que é semelhante às encontradas na Inglaterra e África do Sul, a um maior poder de transmissão, devido à proteína Spike, que faz ligação do vírus às células.
“As análises mostraram que essa mutação separadamente já trazia vantagem para o vírus [se transmitir mais]. Essas mutações preocupam bastante, e precisamos de mais tempo e análises para saber realmente se ele está associado a esse maior poder de transmissão." .
O sequenciamento do vírus feito no Japão foi comparado com amostras coletadas entre abril e novembro de 2020, no banco de dados do Amazonas.
A pesquisa segue em andamento e as amostras coletadas em dezembro ainda estão sendo analisadas, o que deve possibilitar a entender como as mudanças do vírus estão influenciando a nova onda no Amazonas.
"Um grupo de pesquisadores da USP-Oxford me procurou para mostrar os resultados das análises deles a partir de material enviado por um laboratório privado do Amazonas. Essas análises também observaram sequências com mutações semelhantes às japonesas. São dois laboratórios completamente independentes, que chegaram à mesma conclusão simultaneamente, sem se comunicarem. O fato de o grupo ter nos mostrado esse resultado foi uma atitude louvável", contou Felipe.
O pesquisador, no entanto, reforça que devido ao baixo isolamento social do estado, já era esperada uma alta nos casos mesmo que não houvesse a nova variante:
“Acredito que essas mutações possam ser parte da explicação para essa explosão de casos aqui no Amazonas. Mas nós sabíamos que o número de casos iria aumentar porque as pessoas não estavam fazendo distanciamento; nos dias 26 e 27 de dezembro houve protesto porque o governador mandou fechar o comércio, houve as festas de fim de ano. E o sistema de saúde do estado já estava fragilizado, é uma situação multifatorial a meu ver”, disse ele ao Uol.
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