Um Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio foi lançado no município de São Gabriel da Cachoeira em resposta ao aumento do número de casos desse que se tornou um grave problema de saúde, pelo Comitê Municipal de Prevenção ao Suicídio e Automutilação. O município, situado no noroeste do Amazonas.

De acordo com a Vigilância Epidemiológica local, de 2020 a 2023, foram registradas 77 tentativas de suicídio ou automutilação, e até setembro de 2024, já ocorreram 34 novos casos. Fatores ambientais, como a seca crescente na região, são apontados como elementos de risco, sendo monitorados, informou o site do Instituto Socioambiental (ISA).

No mesmo período, foram contabilizadas 71 mortes por suicídio, sendo 14 apenas até o início de setembro de 2024. Com 98% da população autodeclarada indígena, a situação requer atenção constante e medidas diferenciadas de prevenção.

O Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio vem com ações interdisciplinares e intersetoriais que visam fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial, capacitar profissionais, realizar campanhas de conscientização e vem como resposta dada pelo Comitê Municipal de Prevenção ao Suicídio.

Dado o contexto de uma população majoritariamente indígena, o plano enfatiza o diálogo intercultural e interinstitucional, com foco em estratégias que respeitem e integrem as tradições e saberes indígenas, como o mapeamento de lideranças tradicionais para apoio e acolhimento de pessoas em sofrimento mental, além da inclusão de práticas terapêuticas vinculadas às tradições dos povos.

O comitê municipal, o primeiro do tipo no Amazonas, é composto por representantes de diversas instituições, como o Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro (DSEI/RN), a Diocese de São Gabriel da Cachoeira, a FUNAI, o IFAM, o Instituto Socioambiental (ISA) e secretarias municipais e estaduais. Desde sua criação, em 2019, passou por desafios como a pandemia de Covid-19 e a alta rotatividade de membros, o que impactou o andamento de suas atividades.

Atualmente, realiza reuniões periódicas e mantém uma composição estável de membros. Um dos principais desafios era a falta de dados epidemiológicos, o que dificultava o planejamento de ações específicas. Com a obtenção desses dados, é possível identificar as populações mais vulneráveis ​​e entender os fatores sociais que

A ocorrência do suicídio indígena é complexa e multifatorial, e embora existam estudos, não há respostas definitivas sobre suas causas. O uso abusivo de álcool é frequentemente considerado como um fator associado. Além disso, as mudanças sociais e culturais, como a perda de rituais de passagem, também são apontadas como possíveis fatores predisponentes

Fatores ambientais, como as secas intensas, também desempenham um papel relevante no aumento do sofrimento mental. As dificuldades de acesso a recursos e serviços, causadas pelo isolamento das comunidades ribeirinhas durante a estimativa, também são fatores a contribuir para essa situação.

A gerente da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Diana Oliveira da Silva, pontuou o aumento dos índices, mas destacou a subnotificação. Por isso, disse que a situação de São Gabriel da Cachoeira é ainda mais alarmante. A fala foi feita durante oficina de Capacitação de Assistência à Saúde Mental sobre os agravos relacionados à violência autoprovocada realizada em São Gabriel da Cachoeira.

Promovida pelas Secretária Municipal e Estadual de Saúde (SEMSA e SES-AM) e Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), a atividade reuniu profissionais da Saúde, Educação, Juventude, organização indígena e sociedade civil durante dois dias, a fim de reforçar a importância da notificação e o seu preenchimento correto para o fortalecimento de políticas públicas de prevenção e acolhimento dos casos.

Durante sua apresentação, Diana incentivou que outros setores, além da saúde, contribuíssem com o reporte junto à Vigilância Epidemiológica do município: “a obrigação de relatar é do profissional da Saúde e da Educação Estadual, mas todos podem e devem contribuir”.

A notificação de casos suspeitos de tentativa de suicídio no Brasil, assim como de violência sexual, é obrigatória e deve ser feita em até 24 horas para que medidas urgentes de acolhimento e prevenção às vítimas possam ser tomadas.

É com base nessas notificações, que geram dados robustos e confiáveis, que ações de prevenção, enfrentamento e promoção da saúde podem ser discutidas e estruturadas nos municípios.