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Queimadas e desmatamento são ameaças às abelhas na região amazônica

Por Portal Do Holanda

23/05/2023 14h11 — em
Amazonas


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Foto: Agência Brasil

Enquanto as abelhas estão sob grave ameaça em estados como Mato Grosso, São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Sul e outros que têm grandes áreas destinadas a monoculturas como a soja, onde há uso intensivo de defensivos agrícolas, na Amazônia, a ameaça é menor e vem do desmatamento e das queimadas, afirma o pesquisador Marcio Luiz Oliveira, que trabalha com insetos no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Márcio, que é doutor em entomologia, destaca que as abelhas são importantes porque toda fruta e legume que se consome, tudo que tiver uma semente no interior, precisou de uma delas para polinização, que é transferência do pólen para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de uma outra flor da mesma espécie e dá origem a semente.

Ao comentar os dados de que nos últimos cinco anos, mais de 500 milhões de abelhas morreram em solo brasileiro, principalmente por causa dos agrotóxicos, que virou tema de campanha do Greenpeace, o pesquisador explica que como na Amazônia não se pratica a monocultura em grandes áreas, não há o uso de defensivos agrícolas dispersados de aviões em grande escala, a exemplo dos  estados onde as abelhas estão com risco de desaparecer.

O pesquisador, que é curador da Coleção de Invertebrados do Inpa e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia do instituto, explica que como na Amazônia não se pratica a monocultura em grande escala, não há o uso de defensivos agrícolas dispersados de aviões, como ocorre nos demais estados, afetando a sobrevivência desses insetos.

A preocupação, na Amazônia, é com as queimadas e incêndios florestais, que afetam as plantas com as quais elas se alimentam. Quando as abelhas captam o néctar e o pólen das flores com defensivos agrícolas, levam para a colmeia contaminando as rainhas e as larvas, explica o pesquisador. Na região, no entanto, há o plantio de fruteiras diversas, o que evita a prática usada nas demais regiões do país.

“Aqui temos nos preocupar com as queimadas, que todos os anos trazem problemas para as pessoas, geram aquecimento global e também matam as plantas que são alimentos para elas”, explica.

Márcio lamenta a manutenção dessa prática que costuma causar acidentes, pois quando se torna incontrolável, atinge propriedades vizinhas, queimando indiscriminadamente.

Espécies

Na Amazônia, segundo ele, os pesquisadores estimam a existência de mais de 500 espécies de abelhas, mas essa quantidade pode chegar a 1.500 espécies.

Pelo menos 15% delas é produtora de mel, embora algumas produzam tão pouco que não interessam aos criadores. Segundo Márcio, algumas espécies são tão pequenas que a colmeia cabe numa casca de fósforo.

Tem abelhas que vivem em ninhos, mas outras vivem sozinhas e algumas poucas espécies que não polinizam, tornam-se as chamadas abelhas-ladras, que invadem os ninhos das outras e ficam morando no local desfrutando do alimento.

“Toda fruta e legume precisou da polinização de uma abelha e se elas desaparecerem, não teremos esses alimentos”, afirma ele, citando frutos como cupuaçu, pupunha, açaí, bacaba, manga, abacate, melão e outros.

Márcio cita uma experiência feita por um supermercado nos Estados Unidos que tirou das gôndolas todas as frutas e verduras que dependiam das abelhas. O resultado foi um vazio na gôndola que impactou a clientela.

Para a proteção das abelhas das quais depende a sobrevivência do ser humano, o pesquisador do Inpa aconselha aos proprietários de terra a não usar as queimadas, evitar o uso de defensivos agrícolas e quando for extremamente necessário esse uso, aplicar à noite e procurar jogar na planta quando ela ainda não estiver em flor, pois é nela que a abelha vai coletar o néctar e o pólen.

Outra medida importante é o cultivo de plantas com flores. Segundo Márcio, onde há flores elas aparecerão. E mesmo que não se tenha uma propriedade rural, pode-se cultivá-las em vasos, que cumprirão o mesmo objetivo de ser fonte de alimento das abelhas.

O especialista afirma que a maior quantidade de abelhas produtoras de mel do mundo está na Amazônia, onde há grande diversidade de produtoras de mel nativo.

Aos interessados em saber mais, o Inpa tem um grupo de pesquisas com abelhas que capacita pessoas que queiram trabalhar com a meliponicultura.

 


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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