Próxima de completar 30 anos de demarcação da Terra Indígena Yanomami, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) lança, nesta segunda-feira (11), o relatório “Yanomami sob ataque: Garimpo ilegal na terra indígena e propostas para combate-lo”, apresentando um panorama do avanço da destruição garimpeira na maior terra indígena do país.

Mais de 56% da terra indígena dos Yanomamis, que é equivalente à de Portugal, distribuída entre os estados de Roraima e Amazonas, está sendo afetada pela invasão de garimpeiros.

Bastidores da Política - Crime organizado comanda invasões para ampliar território em Manaus

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Crime organizado comanda invasões para ampliar território em Manaus

A demarcação, concretizada em 1992, época em que o território estava tomado pelo garimpo ilegal, completará 30 anos no próximo dia 25 de maio deste 2022.

A preocupação dos indígenas é que hoje os invasores têm um poder de destruição muito maior. “O ataque aos povos da Terra Indígena Yanomami já ocorreu na década de 1980, com a invasão de mais de 40 mil garimpeiros.

Hoje, em 2022, a história se repete. Isso é muito grave”, alerta Dario Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.

O aumento do preço do ouro no mercado internacional e ao apoio do governo à atividade ilegal, contribui para que o garimpo avance aceleradamente, levando desmatamento, doenças e morte por onde passa, diz o documento.

Há também denúncia de diversos ataques de criminosos contra comunidades indígenas e uma cronologia completa do assédio ao Palimiu em 2021 – região onde existe uma forte atuação do grupo Primeiro Comando da Capital (PCC).

Dados extraídos do relatório apontam que em 2021, o garimpo ilegal avançou 46% em comparação com 2020.

No ano passado, já havia sido registrado um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na TIY cresceu nada menos que 3.350%, ressalta o estudo da Hutukara.

Mais de 56% da população das comunidades são afetadas diretamente pelo garimpo ilegal. No total, são 273 comunidades, abrangendo mais de 16.000 pessoas. Existem mais de 350 comunidades indígenas na Terra Indígena, com uma população de aproximadamente 29 mil pessoas.

“A extração ilegal de ouro [e cassiterita] no território Yanomami trouxe uma explosão nos casos de malária e outras doenças infectocontagiosas, com sérias consequências para a saúde e para a economia das famílias, e um recrudescimento assustador da violência contra os indígenas”, diz a Hutukara.

O relatório relata uma explosão de casos de a malária em zonas de forte atuação garimpeira, como nas regiões do Uraricoera, Palimiu e Waikás. No Palimiu, em 2020, houve mais de 1.800 casos e neste ano, a população total desta comunidade, de mais de 900 pessoas, tinha em média duas contaminações por malárias por pessoa.

No começo do monitoramento, em outubro de 2018, a área total destruída pelo garimpo somava pouco mais de 1.200 hectares, com a maior parte concentrada nos rios Uraricoera e Mucajaí.

De acordo com o documento, dos 37 polos de saúde existentes na terra indígena, 18 possuem registro de desmatamento relacionado ao garimpo.

Outro fato grave é o assédio às meninas e mulheres indígenas pelos garimpeiros, que oferecem comida e bebidas alcoólicas aos indígenas em troca de práticas sexuais.