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Sem soluções modernas, casas flutuantes permanecem como problema em Manaus

Por Portal Do Holanda

19/07/2023 10h52 — em
Amazonas


Foto: Reprodução
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A polêmica gerada pela proliferação dos flutuantes no igarapé do Tarumã-Açu e a determinação judicial para a retirada e desmonte dessas moradias sob as águas traz de volta uma solução simplificada e já experimentada na década de 1960 do século passado, afirma o professor doutor em História, Leno Barata Souza, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). 

“É mais fácil extinguir o problema, do que cadastrar, organizar e orientar sobre a construção de banheiros ecológicos”, afirma o professor, autor de uma tese com o tema “Cidade Flutuante: uma Manaus sob as águas: culturas, memórias e histórias fluidas”, defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

Ao comentar a decisão atual do juiz Moacir Pereira Batista, da Vara Especializada do Meio Ambiente, determinando à Prefeitura de Manaus retirar e desmontar todos os flutuantes situados no Tarumã-Açu, visando deter uma grave degradação ambiental, Leno destaca que a ideia de moradias flutuantes para a Amazônia vai ao encontro das peculiaridades ambientais da região. 

O problema é que nasce de forma desorganizada, sem nenhum planejamento e controle, o que acaba a tornando um problema social e de saúde pública, argumenta ele, citando países como a Holanda, que mantém moradias flutuantes com toda a segurança e eficiência ecológica e ambiental.

Em Manaus, em meados da década de 60, a chamada Cidade Flutuante abrigou mais de 12 mil pessoas que moravam e trabalhavam em cerca de 1,9 mil flutuantes. Essa quantidade superava os moradores de alguns bairros da época.

Após pressão dos comerciantes do Centro e no período de instalação da Zona Franca de Manaus, a Cidade Flutuante de Manaus foi desmontada pelo então governador Arthur Cezar Ferreira Reis, que concluiu o trabalho no ano de 1967 e os moradores foram transferidos para diversos bairros como Alvorada, Coroado, Conjunto Costa e Silva e Santo Antônio.

Degradação

A exemplo do que ocorre hoje no Tarumã-Açu, as moradias flutuantes não tinham métodos para garantir a higiene e a impedir a degradação ambiental, fatos que fundamentaram a decisão do juiz Moacir Batista, determinando que, independentemente de haver licença concedida ou não, é obrigatório não só a retirada, mas o desmonte inicialmente de todo flutuante utilizado com uso exclusivo para lazer, recreação ou locação por temporada, diária ou final de semana.

O historiador observa que no século passado, a situação era outra, pois os flutuantes tinham uma movimentação comercial importante, além de um contingente demográfico que superava alguns bairros da cidade. 

As pessoas preferiam morar perto do trabalho, por isso iam para o flutuante, já que não tinham condição financeira para morar no Centro e nem custear o transporte para se deslocar para outros bairros, pontua ele.

“Naquela época, a aglomeração na entrada da cidade incomodava os comerciantes do Centro, que reclamavam das casas de madeira cobertas de palha enfeando a cidade”, afirma Leno Souza, citando que no final da década de 60, a economia do Estado passava pelos flutuantes negociando com couro, peles, castanhas, pirarucu, entre outros, foi desarticulada.

Ao citar experiências como da Holanda e de outros países, que têm milhares de moradias flutuantes sustentáveis, o professor da UEA acredita que o problema novamente não será enfrentado pelas autoridades do Estado da forma como poderia.

Para ele, as casas flutuantes não são o problema em si, mas os proprietários e o poder público quando não se organizam para fazer ações coordenadas e criar condições ecológicas para a existência de um modelo de moradia sem agredir o meio ambiente e ser um local seguro para se viver, como acontece na Holanda em em vários países de outros continentes.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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