Sociólogo diz que dados do IBGE sobre moradia revelam aumento da pobreza no Amazonas
Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda
Os dados divulgados hoje pelo IBGE de que Manaus, a capital da Zona Franca, detém 7 das 8 Favelas e Comunidades Urbanas mais populosas do País e que o Amazonas tem 34,7% da sua população morando nessas mesmas condições, revela os efeitos da queda da renda e qualidade de vida da população, afirma o sociólogo Luiz Antônio Souza, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O levantamento do IBGE neste ano define que essas comunidades e favelas são moradias sem as mínimas condições necessárias.
De acordo com o órgão, dentre as 20 Favelas e Comunidades Urbanas mais populosas do País, oito estavam na Região Norte (sete delas em Manaus), sete no Sudeste, quatro no Nordeste e somente uma (Sol Nascente) no Centro-Oeste.
Já entre as unidades da federação com as maiores proporções de sua população residindo em Favelas e Comunidades Urbanas o Amazonas tem nada menos que 34,7%, Amapá, 24,4% e Pará, 18,8%.
Luiz Antônio destaca que nos anos de 2000, de toda a riqueza produzida pelo modelo Zona Franca, cerca de 15% era direcionado a salários, o que se constituía em uma transferência de renda para o trabalhador do Distrito Industrial.
“Agora, nos anos 2020, de toda a riqueza gerada, que se multiplicou ao se considerar o desenvolvimento e produtividade, apenas 7,5% a 8% é transferida para salários. Então, você teve aí, em duas décadas, uma expropriação da metade da renda destinada aos trabalhadores”, pontua o professor, lembrando que essa renda expropriada, desaparece da economia local.
Segundo Luiz Antônio, o trabalhador que nos anos 80, 90, 2000 conseguiu juntar dinheiro e comprar uma casa própria, porque ele tinha um volume de renda nessa direção, hoje ele já não tem mais. “E essa renda desaparece também da riqueza pública, que é o primeiro aspecto que a gente precisa considerar”, afirma.
Um segundo aspecto que o professor considera importante, analisando os dados do IBGE e é mudança da nomenclatura. Antes, o órgão definia esse tipo de moradia como aglomerados subnormais, mas agora usa a expressão que tem na sociedade: favela.
“O que é uma favela? É um glomerado urbano em que moradias não têm a estrutura mínima necessária, como água, saneamento básico, transporte público, enfim”, explica ele, destacando a inovação do IBGE em revelar, desnudar a contradição da sociedade, que é a capitalista, que gera tanta riqueza de um lado, mas gera muita miséria de outro.
O fato da Região Norte ser a região mais pobre do País e essa pobreza se expressar nas moradias, mostra, segundo Luiz Antônio, que não se consegue fazer o desenvolvimento econômico regional com massa salariais muito baixas.
Ao lembrar ainda do tamanho do déficit habitacional do Brasil e de haver mais de 8 milhões de moradias em favelas, o professor da Ufam destaca a quantidade de imóveis fechados, especialmente nos centros antigos das cidades.
“Vi isso em São Paulo e o mesmo vale para o centro de Manaus e nos demais centros urbanos estendidos das grandes cidades. É preciso a gente pensar que tipo de sociedade, que tipo de modelo de desenvolvimento capitalista, que não é capaz de oferecer moradia para as pessoas”, argumenta Luiz.
Isso mostra, segundo ele, que a acumulação da riqueza, é cada vez mais concentrada, gerando milionários muito rapidamente, da outro lado da moeda, gera muita miséria igualmente rápido.
O sociólogo afirma que uma política pública de construção de moradias deve unir os três entes governamentais, federal, estadual e municipal e não atuar de forma só a construir, mas a devolver ao mercado imobiliário os imóveis vazios há décadas.
Para isso, uma solução seria o estímulo ao proprietário de um ou mais imóveis fechados a usá-lo para aluguéis ou concessões.
“Isso pode ser feito com isenção de imposto de renda sobre o faturamento ou aumentar a tributação sobre os imóveis vazios, para desestimular que continuem assim”, afirma Luiz, destacando que além dessas duas estratégias, que precisam ser combinadas, o Estado pode negociar com os devedores dos impostos a quitação ou redução das dívidas desde que os imóveis voltem a ser usados para gerar riqueza na sociedade.
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