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Após Studio Ghibli, Turma da Mônica vira alvo da inteligência artificial

Por Folha de São Paulo

09/04/2025 9h15 — em
Arte e Cultura


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após imagens geradas por inteligência artificial no estilo do Studio Ghibli tomarem as redes sociais, chegou a vez da Turma da Mônica ser alvo da mesma tendência. Desde a última sexta (4), passaram a circular nas redes sociais versões dos personagens de Mauricio de Sousa, geradas por ferramentas como o ChatGPT.

As imagens que replicam o traço clássico dos quadrinhos da Mauricio de Sousa Produções (MSP) foram produzidas a partir de pedidos de usuários, que inserem comandos de texto, chamados de prompts, em plataformas de inteligência artificial generativa.

"Esses sistemas utilizam bancos de dados com referências visuais pré-existentes para criar novas ilustrações que imitam estilos —mesmo sem autorização dos autores originais", explica o próprio ChatGPT.

Apesar de traços semelhantes e características que remetem aos personagens da Turma da Mônica, as imagens geradas por IA ainda destoam das criações originais. Em algumas versões, os personagens aparecem com as cores de suas roupas erradas. Em outras, Mônica e Cebolinha trocam de corte de cabelo e nenhuma consegue conceber diálogos coesos.

Além disso, o que mais diferencia as reproduções das criações originais é seu teor. Uma das tirinhas geradas por IA, por exemplo, mostra personagens similares aos da Turma da Mônica no avião que atingiu as Torres Gêmeas durante os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, em Nova York.

Em nota, a MSP declarou que não autoriza a criação de conteúdos que violam o direito autoral e não admite a associação de suas criações com discursos de ódio, desinformação ou práticas que contrariem os valores da empresa.

"Quando tenta reproduzir o traço da Turma da Mônica, a IA apenas ecoa, de forma limitada, uma linguagem visual única, construída ao longo de décadas pelos artistas da MSP Estúdios", afirma a empresa em nota. A inteligência artificial não cria do zero, nem compreende o contexto artístico, ela apenas reproduz.

"A inteligência artificial trabalha com o passado, com o que os autores já fizeram", diz o cartunista Jal, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil. Segundo ele, utilizar esse material pode ferir os autores originais. "Você cria uma coisa e luta por ela em um ramo onde pouquíssimos conseguem vencer. E daí vem alguém e pega o seu estilo".

Para Jal, a inteligência artificial pode fazer parte dos processos criativos desde que usada com responsabilidade. "Ela tem que ser vista como um auxílio, para provocar ideias", afirma.

Seguindo a mesma linha, a MSP admite o uso da tecnologia "como uma aliada de processos criativos". Mas afirma que seu papel deve ser de apoio e não de substituição à criação artística.

Mesmo o uso de imagens de inteligência artificial sem fins artísticos ou lucrativos gera oposição. Jal acredita que trends como a que imita traços do Studio Ghibli não são tão inofensivas quanto aparentam. "Todo mundo acha que é uma homenagem, mas estão ajudando a ferir um autor". Para ele, é preferível que as pessoas reproduzam a arte de outros com as próprias mãos: "Isso é mais criativo."


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