'Babygirl' põe Nicole Kidman para manipular os thrillers eróticos
FOLHAPRESS - O que a gente espera que aconteça, afinal, quando se decide ver um filme? Não é a mesma coisa do que quando sai para uma happy hour, um "blind date" ou uma festa. Muito menos uma viagem ou uma mudança de casa, ou de trabalho. No escuro da sala de cinema, ou mesmo no sofá de casa, a decisão de ver um filme é ter uma satisfação palavra complicada nesses nossos tempos, melhor trocar por distraçãopassageira, rápida, instantânea.
Mesmo os filmes que moldam nossa vida não costumam ser exclusivistas, eles se somam uns aos outros e não nos exigem fidelidade, muito menos que a morte nos separe. Como um romance passageiro, uma ficada na festa da firma ou uns beijos em show de estádio de futebol. Legal, divertido, mas ninguém vai chegar em casa contando, certo?
Pois então essa será menos uma crítica de filme quanto um desafio. Eu quero ver quem aqui (e ali, e em qualquer lugar) vai passar pela vida sem se abalar com um momento de "Babygirl" em que o personagem de Harris Dickinson dança com seus membros longos e desajeitados e o torso tatuado ao som de "Father Figure", hit de George Michael de 1987.
Não vai salvar ninguém, não, pode apostar. A personagem de Nicole Kidman, coitada, dá até dó, porque ela cai de paixão na primeira coisa irresistível que ele faz no filme, tão singela, ainda de roupa de frio. Dickinson acalma um cachorro bravo na rua com uma autoconfiança que Deus me livre, coisa de outro mundo.
"Babygirl", o filme, brinca sem totalmente subverter todas as regras voltadas a elementos muito bons de se brincar no cinema: sedução, poder sexual versus poder real, um tico de dominação e submissão e a liberdade absoluta de guiar as ações dos personagens seguindo exclusivamente os desejos de cada um.
Por um momento, talvez o primeiro terço ou a primeira metade do filme (não posso dizer quase nada com certeza a respeito de "Babygirl", o efeito hipnótico de Harris Dickinson dançando ainda não parece ter passado completamente), é como se a vida realmente fluísse, e não fosse uma eterna subida ladeira acima no sol do meio-dia. Divago, mas sabe como é. Fogo morro acima, água morro abaixo e (inclua aqui o que quiser), ninguém segura.
Um aspecto interessante que dá para pinçar sem muita margem de erro é que "Babygirl" não desperdiça muito o tempo do espectador com grandes explicações psicológicas ou mesmo histórias do passado de seus personagens, e isso é uma coisa muito boa neste caso.
A dancinha de Dickinson conta tudo o que precisamos saber sobre como a CEO Romy Mathis (Kidman) e seu estagiário Samuel (Dickinson) estão conduzindo um envolvimento romântico no local de trabalho para lá de inadequado. Quando a música começa, Romy já se despiu na frente de Samuel a seu pedido, ajoelhou-se para fazer sexo oral e foi chamada por ele, num sussurro rouco, de "babygirl". "Minha babygirl".
Até esse momento, ela tinha sido só submissa.
Os dois estão desempenhando papéis, mas o dela vinha sendo o de uma performer, fazendo o que o garoto pede e sendo recompensada pela sua atenção plena e um pires de leite que ela toma como se fosse um pet devidamente domesticado.
Mas quando as primeiras notas de "Father Figure" tocam, tudo muda. Agora é ele quem se exibe para Romy, uma inversão sutil, mas bombástica, que não deixa margem para outra solução além da aniquilação sentimental completa daquela mulher.
Mas esse é um filme da cineasta holandesa Halina Heijn, de 2024, não do inglês Adrian Lyne nos anos 1980. Ou seja, vai dar para todo mundo assistir ao filme e sentir emoções bem desajustadas, que nem antigamente, sem que o final seja a óbvia punição máxima ou mesmo a morte da protagonista. Devia ter dado alerta de spoiler? Ops. Eu bem que avisei que não estou 100%. Mas a culpa é dele.
BABYGIRL
- Avaliação Ótimo
- Quando Estreia nos cinemas na quinta (9)
- Classificação 18 anos
- Elenco Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas
- Produção EUA, 2024
- Direção Halina Reijn
ASSUNTOS: Arte e Cultura