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De Rosalía a Luan Santana, como cantores criam shows para viralizar na internet

Por Folha de São Paulo

15/08/2024 22h45 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Luan Santana construiu uma redoma e a cobriu com projeções de temas espaciais para fazer um show e gravar seu DVD "Luan na Lua", na Grande São Paulo, em julho. A sensação de ver o sertanejo cantar sobre a superfície lunar representou um passo além de uma tendência cada vez mais popular entre as superestrelas da música --a de investir em cenografia para fazer as apresentações viralizarem nas redes sociais.

Quando Jão estreou sua "Superturnê" em janeiro, por exemplo, a cenografia já era motivo de especulação dos fãs havia dias. Eles compartilhavam fotografias e vídeos das montagens do palco, que tinha um enorme dragão cenográfico e uma passarela que se estendia para o gramado.

Os palcos não deixaram a desejar para as turnês de estrelas internacionais, como a "The Eras Tour", de Taylor Swift, e a "Renaissance Tour", de Beyoncé. Os shows de Swift se tornaram um fenômeno digital quando os fãs se desafiaram a encontrar elementos- surpresa das diferentes fases da cantora na cenografia.

Antes disso, a espanhola Rosalía, em sua "Motomami World Tour", surpreendeu o público com um cinegrafista que a seguia de cima do palco, durante a apresentação toda, para exibir as filmagens em dois telões verticais gigantes fixados nas laterais da arena. Os passos pareciam coreografados para se encaixar nas telas verticais dos celulares.

O cenógrafo Kley Tarcitano diz que o interesse dos artistas brasileiros em shows elaborados para repercussão na internet disparou nos últimos anos. O artista, que dirigiu turnês de Jennifer Lopez e Katy Perry e trabalhou com o Grammy Latino e o Super Bowl, tem mais clientes nos Estados Unidos, onde vive há cerca de 15 anos, mas começou a atender brasileiros agora.

Ele fez o show de Anitta no festival Coachella, nos Estados Unidos, e tam bém os últimos dois DVDs de Luan Santana. Para o sertanejo, ele construiu o cenário de uma cidade futurista que serviu de ambientação tanto para os shows quanto para os clipes que o cantor gravou para suas redes sociais.

"O que está no vídeo é o que vai ficar para sempre. Com as redes, o alcance é maior do que com a televisão", diz Tarcitano. "Antes, a preocupação era com o que estaria nos dois lados do palco, na horizontal, e hoje é o que vai estar em cima e embaixo do artista, na vertical."

Lucy Bennett, professora de jornalismo, mídia e cultura da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, pesquisa o comportamento de fãs durante apresentações ao vivo desde 2012. Ela diz que, nos últimos anos, os shows se estenderam para muito além da plateia à frente do artista, com fãs que transmitem apresentações inteiras, ao vivo, em suas redes.

A transmissão atende aos fãs que não conseguiram ir ao show e assim podem ver a apresentação de casa, ao mesmo tempo em que promove os artistas. "Ingressos são muito caros, então o público tem de se sentir atraído para querer comprar. Vídeos criados por fãs podem demonstrar o impacto emocional do show mais do que um vídeo oficial."

A estrategista criativa Elisa Gijsen conta que foi pensando nisso que Ludmilla a contratou para dirigir seu show no último Rock in Rio, há dois anos.

A apresentação, que custou cerca de R$ 3 milhões, alterou toda a estrutura do palco Sunset, para acomodar uma escada central que serviu de plataforma para a banda e os dançarinos, além de telões e luzes que mudavam a cada faixa. "Cada vez que a pessoa apontava o celular para documentar o show, ela poderia capturar uma imagem diferente. Foi muito estimulante visualmente", ela afirma.

O show de Ludmilla ficou entre os assuntos mais comentados do X, o novo Twitter, por horas.

Gijsen conta que aprendeu num projeto com a artista Marina Abramovic, um dos nomes mais importantes da história da performance, a importância do registro. "Além da experiência da performance, é essencial pensar no resultado visual que sairá daquilo. Marina é contratada para fazer a performance, mas ganha dinheiro com fotos e vídeos."

Por outro lado, a sustentabilidade financeira de megashows preocupa os produtores. Kley Tarcitano diz que no Brasil é caro e difícil alugar essas estruturas. "Muitas peças ainda não existem aqui e têm que ser alugadas de fora", diz o cenógrafo, que usou o mesmo elevador de Beyoncé na "Renaissance Tour" para o show que Ivete Sangalo fez no estádio do Maracanã em dezembro. "Para artistas menores pode ser mais difícil, e a conta acaba não fechando."

Gijsen diz que o alto preço pago pelos artistas --e consequentemente pelo público-- vale pelo retorno midiático e que, no futuro, o investimento deve ir além, com sensores de pressão, temperatura e movimento, para proporcionar uma interação ainda mais especial entre o artista e o público no mundo de carne e osso.

"A ideia é engajar as pessoas cada vez mais nos shows, romper a barreira entre artista e fã de alguma forma e transformar aquele acontecimento ao vivo em notícia", afirma a diretora. "Sempre estamos pensando em qual é o ápice dessa experiência, qual o momento que vai viralizar e gerar a grande oportunidade de compartilhamento."


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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