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'Endless Ocean Luminous' é raso como uma piscina infantil

Por Folha de São Paulo

30/06/2024 13h30 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - De porto em porto, Charles Darwin coletou e catalogou toda sorte de espécimes, entre plantas, rochas, insetos, lagartos, tartarugas e aves, como os célebres tentilhões na temporada em Galápagos. Quase duzentos anos e trocentos documentários da Discovery depois, não é mais preciso se arriscar para conhecer os mistérios do mundo animal pelo mar ou terra firme. Por essas e por outras, "Endless Ocean Luminous", para o Nintendo Switch, beira um insulto à ciência apaixonada.

Neste simulador de mergulho que promete sete mares de descobertas, para que o jogador conheça mais de 500 espécies de peixes --alguns deles exagerados e fictícios, para dar um gostinho--, a experiência se parece terrivelmente com uma piscina infantil.

O game é o terceiro de uma franquia pequena, que começou no Nintendo Wii, e conquistou um nicho pelo seu aspecto relaxante e contemplativo. Basicamente, você é um mergulhador que escaneia as criaturas marinhas do fictíco mar Veiled.

Ao se deparar com um cardume, pressionamos um botão e todos os peixes são escaneados, entrando para a lista de descobertas, com seu nome popular, científico e uma breve descrição enciclopédica de suas características e hábitos.

Dos tempos do Wii (os anos 2000 e 2010) para cá, relaxar virou moda entre as produções, sobretudo independentes, a ponto dessa moda ter se exaurido, não sem deixar pérolas como "Journey", "Unpacking" e "Abzû" --este último também uma bela aventura submarina.

Mas nesse novo "Endless Ocean", é difícil reagir diferente de um peixe morto. Os visuais simples e coloridos, dão conta de gerar uma boa impressão ao reproduzir fielmente as criaturas e partes do cenário marítimo. Mas por trás da maquiagem, paira um estranho comportamento muito pouco realista --cardumes vão e vem roboticamente, peixes menores não se assustam com os tubarões ou as baleias que balançam suas caudas ignorando a presença de um humano curioso das redondezas.

É evidente que o excesso de realismo, principalmente em jogos de sobrevivência, pode só atrapalhar a experiência, ou oferecer algo mais frenético, como no oceano alienígena de "Subnautica" ou na complexidade crescente de "Dave the Diver", para citar outros games do subgênero písceo.

Em "Luminous", a jornada pode ser instigante no começo, conforme o jogador tenta escanear mais e mais seres, descobre crustáceos escondidos, se depara com uma solitária baleia-jubarte e tira fotografias para guardar de recordação dentro do catálogo do jogo --e da própria galeria de imagens do Switch.

Mas pouco avança --o jogador nada com um botão e, com outro, investiga as criaturas. É preciso ficar segurando o botão até que o processo se conclua, depois navegar pela lista numa interface primária (numa tipografia grande e pouco atrativa) e com textos lidos numa narração monótona e computadorizada. Enfim, é preciso se esforçar para encontrar o encanto em meio a tanta repetição.

Tampouco há uma diversidade de modos de jogo --há o de exploração individual, em um mapa de médio porte, onde o jogador obtém pontos para desbloquear os capítulos de uma campanha dispensável. Cada um dos episódios traz um breve tutorial e um pedacinho de história, mas as fases são tão curtas (e tão demoradas para desbloquear) que nem compensa chegar ao fim.

O que salva um pouco do marasmo é o modo de exploração multiplayer online, onde vários jogadores se reúnem para encontrar a maior quantidade de seres num mapa, e desvendar as criaturas lendárias e míticas que habitam por lá.

Com a ajuda de outras pessoas, o processo é mais rápido, com recursos de interação por meio de avisos para itens importantes (para ganhar mais pontos) e criaturas novas para o catálogo (com o tempo, algumas podem começar a seguir o mergulhador), além de ter uma série de pequenas missões que dão ritmo à jogatina. Mas é preciso insistir, dar mais de uma chance para a coisa engrenar.

Enfim, sem incentivo e variedade nem estofo educativo o suficiente, "Endless Ocean Luminous" parece mais o protótipo de um mar raso, povoado de simulacros. É um desperdício do próprio trabalho técnico louvável de recriar, na tela, um mundo tão divino e misterioso.

ENDLESS OCEAN LUMINOUS

Onde: Disponível para Nintendo Switch

Preço: R$ 249

Classificação: Livre

Produção: Arika

Avaliação: *Regular*


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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