Entenda a moda da 'tropa do bigode' e por que ele é símbolo de masculinidade e poder
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ele está em Hollywood, nos campos de futebol, nas periferias e nos centros urbanos, em vídeos postados no TikTok e no Instagram por fashionistas e adeptos da vida fitness. Pode ser visto no rosto de famosos e anônimos, de diferentes formas. Estamos falando do bigode.

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Em janeiro deste ano, Chay Suede causou frisson nas redes sociais ao passar a ostentar o seu na novela recém-encerrada "Mania de Você". O ator não é o único emblema de beleza, estilo e sensualidade masculinos a aderir ao bigode.
Nos últimos anos, Joe Keery, Harry Styles, Paul Mescal, Jacob Elordi, Milo Ventimiglia e Timothée Chalamet entraram para a "tropa do bigode". O rapper porto-riquenho Bad Bunny até fez do seu um personagem da divulgação do álbum "Debí Tirar Más Fotos".
Já no Brasil, os atores Cauã Reymond, Nicolas Prattes e João Guilherme e o cantor sertanejo Gusttavo Lima também entraram no grupo, bem como o jogador de futebol Willian Dubgod, atacante do América Futebol Clube, cujo nome é autoexplicativo.
O bigode, hoje, é um dos principais marcadores de estilo pessoal dos homens e o TikTok nos dá alguns exemplos dos significados atribuídos a ele. Basta procurar por "tropa do bigode" na barra de buscas da plataforma que você vai encontrar incontáveis vídeos de "antes e depois".
Neles, usuários mostram a diferença que faz cultivar pelos na região e "meter aquele shape" ou seja, ostentar músculos definidos e baixa porcentagem de gordura corporal ao som do funk proibidão " Tropa do Bigode", dos MCs K.K. e Daneve.
O estudante Gabriel Moura, 20, diz à Folha de S.Paulo se sentir mais confiante agora que tem um bigode para chamar de seu. Ele afirma não só se sentir mais à vontade com as mulheres como garante que tem sido mais procurado por elas. Está fazendo sucesso.
Após ter a cabeça raspada no trote da graduação em ciências contábeis da USP, em 2024, ele conta que sentiu a necessidade de mudar algo na aparência enquanto o cabelo crescia aos poucos. O resultado transcende o sex appeal.
"Estava na moda no time de basquete da faculdade e eu decidi testar nas férias. Quando as aulas voltaram em agosto, percebi que tinha dado muito certo", diz. "O bigode não mudou a minha personalidade, mas acrescentou algo a ela. Muita gente já se lembra de mim por ele, e antes eu não tinha outra característica física que fizesse as pessoas se lembrarem de mim."
Uma inspiração, o estudante afirma, é o influenciador fitness Eduardo Godinho, que mostra o bigode em vídeos em que pratica corrida e musculação assim como Vincenzo Saggio, 23, empresário e criador de conteúdo.
"O que eu gosto do bigode é que ele envelhece o rosto, você aparenta ser mais maduro, transmite personalidade", diz à Folha de S.Paulo. "A gente está em um momento de busca pela nostalgia, principalmente na moda, e agora volta a esse símbolo popular. Ele está atrelado a uma ideia de masculinidade forte."
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PERSONAGEM HISTÓRICO
Como se vê, o vintage é crucial na presença do bigode no contemporâneo e isso dá a ele significados culturais ainda mais diversos.
No século 19, ele era associado a figuras de respeito e virilidade, refletindo a imagem de homens maduros e sábios, segundo o livro "Of Beards and Men" ("Sobre Barbas e Homens"), de Christopher Oldstone-Moore. Já no século seguinte, houve um declínio, pois uma estética mais limpa passou a ser a moda.
O autor argumenta que o bigode se tornou um marcador de status e poder de líderes políticos e militares, mas também de rebeldia nas décadas de 1960 e 1970 entre os movimentos contraculturais, como o hippie.
Já no livro "One Thousand Beards: A Cultural History of Facial Hair" ("Mil Barbas: Uma História Cultural do Cabelo Facial"), Allan Peterkin trata da diversidade de estilos de bigode e a função dos pelos entre o nariz e a boca como meio de expressão de identidades masculinas diversas.
Em algumas culturas, como a islâmica, o bigode representa sabedoria e respeito, sendo comum entre líderes religiosos, mas também adquiriu um tom humorístico como no caso de Charlie Chaplin, que o transformou em ícone cômico o "toothbrush", ou escovinha.
O consultor de estilo masculino Alex Cursino afirma que o bigode sempre volta. "Hoje ele tem essa pegada meio anos 1970, algo mais casual, mas carregado de intenção. O cara está comunicando alguma coisa, nem que seja só um estilo despretensioso", diz.
Ele afirma acreditar que hoje o bigode é um símbolo estético de singularidade, e que não é só coisa de machão antiquado, pois muitos gays aderiram. Dá para usar sem cair em estereótipos.
"As referências de estilo vintage agora foram além dos anos 1980 e 1990 e já chegaram aos anos 1960, 1970 e até mesmo às décadas de 1930 e 1940", afirma. "A tendência hoje é a de resgatar o clássico e trazer um toque moderno."
UM BIGODE PARA CHAMAR DE SEU
Nas periferias, o bigodinho fino aparece frequentemente acompanhado de um corte de cabelo com desenhos feitos à máquina. Vale lembrar que o rapper Mano Brown, ídolo das favelas, sempre teve um. Já em um bairro descolado, como Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, é possível encontrar bigodões espessos ao estilo Belchior ou cultivados na régua.
Cursino dá ênfase a quatro tipos que estão em destaque. O primeiro é o chevron, usado por Bad Bunny, que é mais longo e cobre parcialmente a boca. "Está na moda principalmente entre os fashionistas", diz. "O minimalista, mais simples e fino, lembra o estilo dos anos 1930 e 1940. É rente à pele e com pouco volume."
O conectado se mistura a uma barba sutil e é popularmente conhecido como "barba italiana" em degradê nas laterais do rosto. E, por fim, o bigode definido, como o de Chay Suede em "Mania de Você". "Esse tem uma pegada mais boêmia e natural, com volume controlado na parte superior e destaca o desenho da boca sem pesar na expressão."

ASSUNTOS: Arte e Cultura