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Rock in Rio vira festival de trap por um dia para rejuvenescer aos 40 anos

Por Folha de São Paulo

14/09/2024 0h45 — em
Arte e Cultura



RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em sua edição de 40 anos, o Rock in Rio virou um festival de trap por um dia para rejuvenescer. O evento se rendeu ao gênero em quase toda sua escalação nesta sexta-feira (13), e contou com uma plateia jovem como em poucas ocasiões.

Além das atrações principais, grandes nomes do trap no mundo, Travis Scott e 21 Savage, o Rock in Rio escalou um quem é quem do rap brasileiro. Foi de Matuê -no palco Mundo, em momento mais sereno da carreira - a Veigh, passando por Cabelinho, Slipmami, Orochi, TZ da Coronel e Kayblack, entre outros.

O festival fez um movimento parecido com o próprio trap no Brasil. O estilo de rap de batidas eletrônicas e AutoTune, em ascensão no mundo há uma década, primeiro pegou em São Paulo, com gente como Raffa Moreira e Recayd Mob, para depois ser quase dominado pelo Rio.

Na voz de Orochi e Cabelinho, atrações de shows lotados no palco Sunset, e outros -- como Pozo do Rodo e Filipe Ret, que cantam em outros dias no Rock in Rio - o trap virou paisagem sonora de cenários clássicos do Rio como as praias e os morros da zona sul. Absorveu trejeitos do funk e ganhou cara própria em relação à vertente paulista.

É algo perceptível na moda, tema essencial no imaginário de um gênero que estourou com "Versace", do Migos, e tem ícones fashion como A$ap Rocky entre seus representantes. No Rio, além de muitas camisetas pretas estampando artistas, o público abusou das camisas retrô de times de futebol -em especial, um modelo de 1999 do Flamengo, usado por Travis Scott num show.

Mas o Rock in Rio nesta sexta (13) não foi muito diferente de festivais paulistas dedicados exclusivamente ao trap -caso do Cena, que já trouxe Playboi Carti e Quavo, estrela do Migos. Desde 2019, ele reúne dezenas de milhares de fãs do gênero que há anos é sucesso de massa no streaming.

O Parque Olímpico, de maiores proporções, foi tomado por jovens, incluindo muitos adolescentes e até pré-adolescentes, estes em grande parte acompanhados pelos pais. Foi um público também mais abrangente do que o fã mais assíduo do trap -na verdade, certas visões pareciam às de um shopping num sábado.

Alguns shows do gênero, conhecido pelas rodas de bate-cabeça, nesta sexta tiveram públicos desinteressados. Não ajudou o trap sombrio e de voz grave de 21 Savage, que soou arrastado num palco tão grande, mas sua plateia veio junto em pouquíssimos momentos.

Antes do show, seu DJ puxou uma sequência de hits essenciais do trap entre 2015 e 2020 -como "Bad and Boujee", do Migos-, e emendou em "Firework", de Katy Perry. Nos espaços mais distantes do palco, tinha mais gente cantando o hit pop do que os do trap.

Foi diferente em outros shows -entre eles o de Cabelinho, que botou a plateia para pular no Sunset- e de Travis Scott, astro do dia. Pupilo de Kanye West, ele figura no panteão do gênero. É não só um dos mais ouvidos, mas um dos mais influentes da história do trap.

Referências de dez em dez trappers brasileiros, rosto onipresente nas camisetas do público no Parque Olímpico, ele comandou um espetáculo psicodélico-futurista para uma massa em euforia. As rodas de bate-cabeça estavam lá, e o público pulou e berrou.

O dia do trap faz justiça ao sucesso de um gênero que hoje tem a cara da cidade do Rock in Rio. Também soa como uma escolha básica, reforçada pela curadoria que poderia ter sido feita por um algoritmo, limitada ao que há de mais pop e tem mais números do gênero no país.

Com todos os ingressos esgotados, o dia do trap pode virar o novo dia do metal, tradição do Rock in Rio na década passada que foi abandonada. Ou seja, uma espécie de bola de segurança, a aposta num nicho engajado para garantir um dia esgotado, sem misturar essas atrações com as dos outros estilos musicais -e, neste caso, um público com idade para ainda vir a muitas edições do festival.

*O jornalista viajou a convite da Natura


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