SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Não é de agora que os tamancos de borracha mais famosos do mercado —os Crocs— causam polêmica. Entre os que julgam horríveis e os que adoram, pelo conforto, há aqueles que acham o calçado estiloso. Justin Bieber, Nicki Minaj, Lil Nas X, Post Malone, Kendall Jenner e Gkay parecem pertencer a este terceiro grupo, tanto que fizeram parcerias e aparecem nas redes posando, orgulhosos, com seus pares nos pés.

O público em geral, gente como a gente, não fica de fora. No Pinterest, as buscas entre julho e agosto de 2024 por "looks com crocs", "crocs outfits" e "crocs aesthetic" aumentaram 20, 30 e 300%, respectivamente, em relação ao mesmo período em 2023. Na rede social, é possível achar diversas inspirações de combinações estilosas usando o calçado.

Contudo, apesar do poder de influência das grandes figuras midiáticas, o sapato como peça fashion ainda não está nos pés do povo, que continua usando os modelos clássicos casuais —ou nenhum. Colaborações com marcas não tão famosas, mas específicas, fizeram com que a Crocs se tornasse item de luxo entre um público restrito. Pode manter a calma: a nova geração de tamancos não é para todo mundo, e a marca sabe disso. Sabe bem.

A Crocs foi fundada em 2002 por três amigos velejadores que buscavam um calçado para usar em barcos: confortável, antiderrapante e que não acumulasse água. Ele leva esse nome devido à aparência, que lembra um crocodilo. Com a popularização, profissionais como chefes da cozinha e da área da saúde passaram a incluí-lo em seus uniformes.

Contudo, houve uma virada. Lorenzo Merlino, estilista e professor de tendências da FAAP, disse ao F5 que a marca representa um caso clássico de uma empresa que soube muito bem trabalhar seu aspecto negativo e trazer um retorno lucrativo, aparecendo até nas passarelas.

A imagem do produto pelo público está longe de ser majoritariamente positiva. Para muitos, o tamanco é sinônimo de sapato pouco sofisticado. Cafona, sejamos francos. Mas a empresa usou isso a seu favor. "Em vez de fazer uma campanha contra e falar nas mídias que o sapato é maravilhoso, eles preferiram assumir uma posição contrária", disse Lorenzo. "Sim, o sapato é estranho. Sim, ele é único. Sim, ele não é para todo mundo", foi o que a marca deixou claro, segundo o professor.

A Crocs teve um boom de vendas na pandemia, porque era um sapato ideal para ficar em casa. É aí que —touché!— a marca resolve aproveitar o momento para inovar e investir em colaborações específicas, que já vinham dando certo desde 2016. "Eles foram nos 'players' certos: Justin Bieber, Balenciaga, Lil Nas X. Tudo isso foi pago, lógico, mas foram as marcas certas", diz Lorenzo.

Dados do Google Trends comprovam que o interesse por Crocs mundialmente começou a crescer em 2021, após o lançamento do modelo Crocs Stiletto em parceria com a grife Balenciaga. Depois dela, collabs com mais marcas e personalidades foram lançadas, como Barneys, Benefit, Simone Rocha, Drew Barrymore e muitos outros, escolhidos estrategicamente.

"Balenciaga é uma marca que se posicionou como diferente no mundo da moda. Que flerta com o feio, que flerta com o não normal. Então essas parcerias realmente deram essa virada do ponto de vista da percepção do consumidor em relação ao produto", explica Merlino.

O Google Trends ainda mostra que o interesse pela marca se manteve popular neste ano, mas foi impulsionado pelos lançamentos das coleções inspirados em Naruto e Toy Story. Ou seja, aqueles modelinhos clássicos, com desenhos, ainda são os que imperam entre os consumidores —infantis ou com gosto infantilizado, vá saber—, em sua maioria.

A isso, somam-se os preços altos das collabs, que chegam a R$ 9 mil, no caso da Balenciaga. "A gente pode dizer que eles estão conseguindo se tornar um produto com característica de luxo", finaliza o professor da Faap.