Compartilhe este texto

'Until Dawn' vai de filme trash até o terror psicológico ao levar jogo para os cinemas

Por Folha de São Paulo

27/04/2025 13h30 — em
Arte e Cultura


ouça este conteúdo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O sangue escorre da cabeça aos pés e tudo começa a girar. Os segundos passam e o fim parece inevitável. Pelo menos é o que indica a foice do assassino mascarado que faz de tudo para atormentar um grupo de jovens. Eles dão os últimos suspiros, e as almas parecem deixar seus corpos. Mas a morte não se torna realidade. Os minutos retrocedem, e a turma recebe outra chance de sobreviver.

Embora resista há uma década -quando o jogo homônimo chegou aos consoles da Playstation-, a noite de terror está fadada a acabar com a chegada do amanhecer. Isso se houver quem sobreviva às criaturas, espíritos e parasitas de "Until Dawn", que chegou aos cinemas neste fim de semana.

Atormentada pelo desaparecimento da irmã mais nova, Clover --papel de Ella Rubin-- reúne amigos próximos para procurá-la pelas profundezas de uma misteriosa cidade do interior americano. Entre antigas paixões e laços de infância, eles encaram um subgênero diferente a cada ciclo.

Da transformação do homem em besta de presas afiadas à possessão de uma mente sensitiva, o longa investe em uma diversidade de formas de assassinato. Deixar alguém para trás está longe de ser opção, e as horas recomeçam quando todos morrem. Mas se engana quem pensa que as vidas são ilimitadas.

Seja pelos sintomas agressivos de um "body horror", seja pela série de vídeos caseiros que remetem ao "found footage", a miscelânea traduz para as telonas o game, em que as decisões dos jogadores definem quem sairá vivo, e esgota pouco a pouco a energia de seus personagens.

"O terror sempre foi meu gênero favorito e sempre sonhei em fazer um grande filme com monstros, maquiagens e efeitos mirabolantes. Tivemos a oportunidade de fazer um pouco de tudo", diz o diretor David F. Sandberg.

O cineasta divide os bastidores do projeto com sua mulher, a produtora Lotta Losten, e já dirigiu com ela vários curtas-metragens, a maioria ambientados em um único ambiente, com gravações em corredores apertados, pouquíssimos atores e muita imaginação, firmando um estilo que prioriza a construção de bons sustos e a diversão do espectador.

A mais conhecida dessas realizações, "Quando as Luzes se Apagam", se transformou em longa-metragem em 2016. "Os filmes de terror podem assumir várias formas. Podem ser contemplativos e mexer com a cabeça do público, mas costumo priorizar algo mais alegre. Gosto de celebrá-lo e me divertir", afirma Sandberg.

Ele vê que o gênero ainda é menosprezado, mas diz não se incomodar. Se a pandemia de Covid-19 permitiu que o casal expandisse sua coleção de pequenos contos e o isolamento virou matéria-prima para novos curtas, o período também alimentou o desejo de retornar às salas de cinema.

"Sinto que estamos no momento certo para se investir em grandes espetáculos ou gêneros como o horror. Embora o streaming centralize produções como as comédias, os espectadores ainda esperam por boas experiências coletivas nas poltronas do cinema. As adaptações de games parecem suprir essa expectativa", afirma Losten.

Entre exemplos recentes, a dupla cita o sucesso de "Minecraft", que até se mantém como a maior bilheteria de 2025 até agora, e fenômenos como os da animação de Mario Bros. e da trilogia baseada em Sonic.

Em uma cabana abandonada ou em um antigo hospital psiquiátrico, o projeto sobrepõe elementos familiares a qualquer fã de histórias assustadoras. A interação entre os jogadores e as vítimas cede espaço às manipulações de Sandberg, que a cada ressurreição aprofunda os pobres coitados e revela novas estratégias de sobrevivência.

Em seu mundo eletrônico e agora neste em frente às câmeras, "Until Dawn" ainda apresenta um cientista maluco que observa os jovens e estuda suas reações ao medo. Junto aos clichês enraizados na história do terror, sua presença tensiona a relação com quem assiste. Há pouco que separe o antagonista do público que se alimenta desta gincana de mortes sanguinolentas.

"Se eu puder escolher um próximo jogo, acho que iria para o universo de 'Resident Evil', mas estou aberto a tudo", diz o diretor. "Acredito que os games de horror costumam ser mais assustadores do que os filmes. Talvez estar no controle aumente nossa responsabilidade sobre os personagens."

Until Dawn

Quando: Em cartaz nos cinemas

Classificação: 18 anos

Elenco: Ella Rubin, Michael Cimino, Peter Stormare

Produção: Estados Unidos, 2025

Direção: David F. Sandberg


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Arte e Cultura

+ Arte e Cultura