Visitar Notre-Dame renovada exige paciência, mas vale a pena
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Como entrar na catedral de Notre-Dame? O melhor conselho, no momento, é: chegar um pouco antes das 18h e ter paciência. Mas vale a pena.
A reportagem visitou Notre-Dame na semana passada, no fim de semana da reabertura. E pode atestar: as imagens vistas no mundo inteiro na cerimônia de reinauguração fazem jus à exuberância da catedral, inteiramente reformada cinco anos e meio após o incêndio que quase a destruiu.
Antes sombria, devido aos séculos de fuligem que cobriam as pedras, Notre-Dame se tornou uma igreja luminosa, que parece ter sido inaugurada ontem, e não no século 12.
"Era tanta sujeira que não se via mais sua beleza. E o que é possível para as pedras, é possível para os corações", disse o pároco de Notre-Dame, Olivier Ribadeau Dumas, na homilia da primeira missa aberta ao público.
Preocupada em garantir o acesso à catedral para o maior número possível de fiéis, a diocese de Paris manteve a gratuidade (contra a vontade do governo francês, que queria cobrar 5, cerca de R$ 30), mas adotou regras rígidas para quem quiser entrar.
É compreensível. Esperam-se 15 milhões de visitantes por ano -o monumento mais visitado de Paris. Serão cerca de 40 mil pessoas por dia. Considerando-se que a catedral comporta cerca de 3.000 pessoas, isso representa uma expectativa de tempo médio de visita de uma hora.
Teoricamente, para conhecer Notre-Dame renovada é preciso fazer uma reserva online. Reservar pelo site, porém, não tem sido fácil. Quem acessa a página (resa.notredamedeparis.fr) geralmente se depara com a mensagem "esgotado", tanto para uma simples visita quanto para assistir a uma missa. É preciso entrar com frequência no site e contar com a sorte para encontrar um horário disponível.
É possível reservar para até cinco pessoas. Atenção: a antecedência máxima da reserva é de 48 horas para as visitas e uma semana para as missas. Quem tem viagem marcada para Paris, portanto, precisa se organizar para acessar o site no dia certo.
Há alternativas. A principal, e no momento a mais viável, é comparecer pessoalmente à ilha de la Cité, onde fica Notre-Dame, faltando uma hora para o fechamento, quando é aberta uma fila presencial. A catedral funciona das 8h às 19h quase todos os dias, exceto às quintas-feiras, quando fecha às 22h. O acesso, porém, não é garantido, pois depende da demanda, e essa modalidade de acesso está sujeita a alterações nas próximas semanas.
Uma vez lá dentro, o ideal é dispor de pelo menos uma hora para fazer o tour. "O percurso de visita foi pensado com muito, muito carinho", explica a brasileira Carolina Ferreira, gerente do acervo de Notre-Dame.
Ela chama a atenção para a estátua da Virgem com o menino Jesus, que fica diante do pilar sudeste da nave da catedral. "É uma escultura do século 14, muito representativa desse processo de restauração, porque é muito frágil e saiu intacta do incêndio, sem nenhum arranhão mesmo."
Uma das recomendações de Carolina é conhecer o chamado "tesouro de Notre-Dame", as relíquias guardadas na sacristia, como livros litúrgicos, vasos e ornamentos. É preciso pagar 10 (cerca de R$ 60) na hora.
Quem tiver a sorte de entrar numa sexta-feira poderá contemplar a suposta coroa de espinhos de Jesus Cristo, que faz parte do acervo desde o século 13. Salva do incêndio, ela será exposta em um relicário todas as sextas-feiras, até meados de abril, e depois disso na primeira sexta de cada mês.
Uma outro jeito de entrar -possibilidade remota, porém é conseguir um lugar em um dos concertos programados para os próximos meses. Os ingressos para as apresentações (a partir de 25, cerca de R$ 160) já estão esgotados, mas e possível se cadastrar em uma lista de espera no site musique-sacree-notredamedeparis.fr.
Por enquanto, reservar um lugar através de uma agência de viagens especializada ou de grupos de peregrinos não é possível. A diocese de Paris promete liberar o acesso aos peregrinos em fevereiro, e aos tours culturais em junho.
Uma visita completa a Notre-Dame não pode se limitar apenas à catedral. No subsolo da esplanada diante da catedral há uma exposição gratuita sobre os profissionais que trabalharam na reforma. Quem se dispuser a pagar 30,90 (cerca de R$ 195) no mesmo local pode colocar óculos de realidade virtual e fazer um passeio histórico pela catedral.
Em outros locais de Paris, e até mesmo fora da capital, há exposições relacionadas a Notre-Dame. A Cidade do Vitral, em Troyes, duas horas de trem a leste de Paris, conta até o dia 9 de março a história dos vitrais da catedral ( 5).
Dentro da catedral há uma lojinha com suvenires de Notre-Dame. O terço especial da reinauguração, vendido em uma caixinha de papelão no formato das conhecidas torres góticas, sai por 12 (cerca de R$ 75).
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