Acabou o silêncio: vamos comemorar a falência do pensamento único da era Bolsonaro
A libertação de Lula e de outros condenados em segunda instância, após decisão do STF de quinta-feira, é o menos importante. O que tem-se que comemorar é a falência do pensamento único que se espalhava como doença pelo País.
Indiretamente, a decisão do Supremo de considerar que os réus tem direito de recorrer a outras instâncias da justiça e que não podem ser privados da liberdade sem o exercício desse direito constitucional, restabeleceu o debate em um País que de repente havia se calado diante do radicalismo exacerbado de um governo declaradamente autoritário.
E mais: que a partir de agora o debate passa a ser plural e a política já não caminha em mão única, ou porque, também por via indireta, as instituições ganharam oxigênio e vão colocar freios em aspirações autocráticas. Um novo Brasil começa agora.
LEGADO DE BERNARDO CABRAL
O Supremo não teria discutido na quinta-feira a constitucionalidade de um artigo do CPC se a Constituição de 88 não contemplasse a ampla defesa e o direito do réu recorrer até a última instância do Judiciário. A Carta de 88 surgiu a partir de uma Assembléia Constituinte que tinha a tarefa de fazer o País respirar institucionalmente, garantindo direitos e liberdade aos seus cidadãos .
O que parece exagerado hoje e indutor da impunidade - o direito fundamental a liberdade, mesmo de réus condenados em segunda instância, na verdade é o cerne da democracia. Sem direitos - como o da liberdade - não há justiça .
Como grande influenciadores da Carta de 88 estavam Ulisses Guimarães de um lado, e o amazonense Bernardo Cabral, como relator, de outro.
Cabral recebeu das comissões técnicas da Assembléia Constituinte 2,5 mil artigos e entregou a Carta para votação com apenas 245.Sua contribuição foi fundamental para a garantia de direitos e pelo espaço que a advocacia tem hoje nos tribunais.
ASSUNTOS: Bolsonaro perde, Lula ganha liberdade, Lula Livre, Moro sofre derrota, segunda instância
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.