Acorde, você está na TV dizendo o que não disse, nem sabia...
De repente a gente acorda e está na tv, falando de amores que não tivemos e de sonhos que não sonhamos. De crenças e ideais que não compartilhamos. A imagem é nossa, a voz também, mas o que vemos e ouvimos é uma cópia perfeita de nós mesmos, mais inteligente, porém menos irracional, ocupando nosso espaço e nossa humanidade, de certa forma nos inferiorizando.
Sempre vivemos artificialmente, fingindo ser o que não somos, nos escondendo por trás de detalhes, de planos ocultos, na maioria das vezes conspiratórios. Mesmo os sentimentos mais íntimos são artificiais - as paixões que incendeiam momentos e depois se apagam; as amizades quase sempre imperfeitas fundadas em interesses.
O que não contávamos era que a tecnologia avançasse de tal forma que fosse capaz de nos desmascarar mais ainda, ao tempo em que nos desvaloriza, inferioriza e empobrece.
A chamada inteligência artificial está aí, imitando tudo, criando tudo, produzindo textos, aconselhando, calculando, projetando edifícios e o futuro.
Num mundo tão desigual essa evolução poderia ser bem vinda, se não carregasse um processo de exclusão que aumentará o abismo já grande entre ricos e pobres. É segregadora na medida em que seu uso é seletivo. É desagregadora, por extensão, pois facilita imitações, mentiras e ódios. Pior, tem a capacidade de eliminar profissões, inclusive a de jornalista.
O mundo poderia ficar melhor com esse tipo de evolução, mas somos especialistas em não saber fazer o melhor uso das tecnologias.
O mundo subdesenvolvido ficará mais pobre, mais dependente das nações ricas. E os pobres - que Lula diz que um dia farão sua própria revolução - estarão mais segregados, mais impotentes, mais famintos.
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ASSUNTOS: desigualdade, Inteligência Artificial, pobreza
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.