Alejandro, a desembargadora, Choy, Arthur e a TV Justiceira
Foi um dia de violência esta segunda-feira em Manaus. E de desconstrução da justiça pela TV. Primeiro ao banalizar uma decisão judicial, que podia ser questionada no espaço adequado, mas nunca atribui-la a um “caminhão de dinheiro”, como disse um apresentador de programa policial. Ou o que afirmou, após a decisão que beneficiava o acusado cair, que “nem toda justiça é comprada”.
Segundo, porque há uma violência difusa que instiga o ódio, que materializa a inveja sobre quem tem o carro da melhor marca, quem tem o melhor advogado, casa com piscina, ou é filho de uma autoridade.
Não foi Alejandro Molina o grande derrotado nesta segunda-feira, nem sua mãe, a primeira dama Elizabeth Valeiko, nem seu padrasto, o prefeito Arthur Neto, nem seus advogados. Foi a forma de conviver bem em sociedade, de respeitar uma decisão judicial, de prosperar com o trabalho, de buscar meios de comprar o melhor carro - o Jaguar que conduziu Alejandro do aeroporto para a delegacia, veiculo que pertence ao advogado Marco Aurelio Choy, presidente da OAB. Choy não pode ter um Jaguar?
Independentemente do crime cometido - que pode, em tese - as investigações continuam - ser atribuído a Alejandro, o que se viu foi uma permanente e abusiva instigação ao ódio de parte da imprensa televisiva.
É preciso um marco para regular esses programas policialescos. Não é censura, é comedimento, respeito, limites que eles não têm, embora vendam a ideia de uma isenção cujo significado desconhecem.
Não estamos defendendo Alejandro, estamos defendendo princípios de equidade, justiça, liberdade com responsabilidade. Estamos defendendo que a TV seja um espaço aberto não para pregar a violência, mas para disseminar valores.
ASSUNTOS: alejandro valeiko, Arthur Neto, delegacia de homicídios, Marco Aurélio Choy, OAB
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.