Alex e Ingrid eram irmãos e se amavam. Mas Ingrid matou Alex...
Alex e Ingrid eram irmãos, cresceram juntos e se amavam. Saíram de um igarapé para morar num apartamento do Prosamim, no bairro de São Raimundo, em Manaus - sonho de muitos anos finalmente realizado. A sexta-feira era um dia esperado. Uma pausa para o descanso de uma vida difícil. Uma cerveja, outra, uma grade, duas e garrafas tomando conta da mesa.
Viraram o sábado bebendo, rindo um do outro, recordando amores perdidos, traições, desejos, amigos que desapareceram. Até que uma palavra boba saiu da boca de Alex e irritou Ingrid. A faca que cortou a linguiça do churrasco daquele sábado serviu para o primeiro golpe em Alex, que revidou com outro facão. Não durou muito Alex cair morto e Ingrid ser ferida gravemente.
O que aconteceu com a ternura que unia os irmãos e os levou a uma singela confraternização entre sexta-feira e sábado, resultando em um momento de rancor, ódio e desejo de matar ? O álcool? Talvez? Instintos primitivos que podem ser despertados a qualquer momento e sobre os quais muitos de nós não tem controle? Muito provavelmente.
A questão é abordada na coluna de hoje porque novamente está em debate a violência e sua origem. Pior, debita-se na conta do sistema segurança a responsabilidade por não conter o avanço dos homicídios. Mas em parte ocorrem em família, ou entre vizinhos. A polícia não pode impedir, não tem como impedir.
Quando a violência começa na família ela vai para a rua, quando não para a escola. E é difícil contê-la porque sua origem, embora clara, é complexa - nasce do desespero das crianças que assistem pai e mãe se agredirem todos os dias e se acusarem mutuamente.
O caso de Ingrid e Alex é apenas um exemplo, dos muitos que não terminam em morte, mas atingem em cheio as famílias e impactam no comportamento das crianças.
Num tempo em que se discute muito a violência nas escolas, é preciso buscar sua origem e ir direto ao ponto: a família. Se há paz na família haverá paz nas escolas e nas ruas.
A questão é como envolver famílias em projetos que fortaleçam relações com as crianças, vizinhos, colegas dos filhos na escola. O segredo é como fazer amigos e respeitá-los. O segredo é valorizar a vida. A vida dos outros.
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ASSUNTOS: Amazonas, homicídios, Manaus, violência nas escolas
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.