Algumas décadas depois do 11 de novembro
Eu tinha 12 anos e queria completar 15 - ir a festas, assistir a um filme, namorar. Um tempo em que tudo era pecado e a gente tinha de ir à igreja aos domingos confessar nossos segredos mais íntimos. A figura do diabo invadia nossas vidas e o medo do inferno era grande. Um tempo com pouca informação e um forte domínio da igreja.
Minha primeira masturbação destruiu meus joelhos. O padre mandou que eu rezasse 600 Ave Maria e 700 Pai Nosso, depois estaria absolvido. Para fazer de novo...
Eu tinha 15 anos e ansiava por completar 18. Queria assistir um filme de adulto. Estava em cartaz "Por trás da porta verde". Mesmo assim tentei e fui barrado...
Eu tinha 18 e aquele filme ainda estava em cartaz no cinema Vitória, mas eu continuava com cara de menino e fui barrado outra vez.
O mundo era uma casca de ovo, tão pequeno que não ia além da estrada que passava ao lado do beco onde eu morava. E eu era feliz.
Mas tudo se alargaria com a escola, onde tive acesso aos primeiros livros. Depois um teste no jornal, onde me sentia importante. Enfim, o contato com as ruas, como repórter cobrindo o mundo cão das favelas que mistura bandidos e polícia.
Um mundo que funde a um só tempo medo, dor, miséria, fome e também paixão, amor, solidariedade, porque ali há mães que choram por seus filhos que morrem muito cedo. Gente que trabalha duro para levar o pão para casa. Gente que sonha em ser grande ou fazer seus filhos grandes.
De repente os anos passaram tão rápido que quase não percebi. Apenas o espelho mostra um rosto diferente. Por dentro sou o mesmo menino em busca de seu destino...
ASSUNTOS: aniversário
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.