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O corpo de Alice, a garota assassinada em Manaus


Por Raimundo de Holanda

16/11/2019 19h58 — em
Bastidores da Política



A Alice  sequestrada e morta por traficantes no bairro União da Vitória, em  Manaus, não vivia no País das Maravilhas, mas como a Alice do romance de  Lewis Carroll,  comia cogumelos mágicos.  Quem a levou para esse mundo sombrio a matou.

A Alice  assassinada buscava viver um conto de fadas, mas a vida real não é um romance. Como no livro,  a Alice do bairro  União Vitória  encontrou  a “lagarta que fuma”, só não a viu se transformar em borboleta.  Foi sua ruína.

Talvez seu sonho fosse ser  irreverente como a Alice do Conto Infantil e dar bronca no povo louco que domina as favelas com arma de fogo.  Mas Alice era só uma menina perdida em sonhos que se transformaram em pesadelo. Sonhos de outras Alices, cooptadas pelo mundo sombrio das favelas.

O País das Maravilhas que a Alice do União da Vitória encontrou tem chefes, homens armados e muito pó mágico. Em algum momento ela quis dizer não. Era tarde.

Para sua mãe, dona Tati, o mundo das sombras enviou um video no qual Alice aparece tomada pelo sangue e sem vida.    

A  dor de dona Tati  tem o tamanho do mundo. Ela só deseja recuperar o corpo da filha, rezar sobre ele e chorar. Não é muito,  é?

Alguém sabe onde os senhores das trevas enterraram o corpo de Alice? Quem souber e estiver fora do pacto de silêncio imposto nas favelas,  grite alto, bem alto. Esse grito vai ajudar no despertar de um novo dia, quem sabe em uma  revolução das favelas contra a escuridão.

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ASSUNTOS: Alice assassinada, bairro nova vitória, crime organizado, cv, fdn

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.