Amazonas: novas moradias, novos equívocos e duas eleições pela frente
- Nada contra habitações. Tudo contra a falta de planejamento para o desenvolvimento de uma cidade que sonha em ser metrópole e a cada dia é transformada em um grande monstro, rodeada de problemas estruturais.
O governo do Amazonas resolveu investir pesado em habitação. Em parceria com o governo Lula está desembolsando R$ 4,7 bilhões em novas moradias. A medida é salutar, mas empurrada por ano eleitoral (eleições para prefeitos e vereadores) e na beirada de ano pré-eleitoral ( 2025), com eleições para presidente, governador, deputados estaduais e federais marcadas para o ano seguinte, 2026
Na prática, um jogo de poder - que faz a festa das empreiteiras de plantão - sem considerar uma calamidade que bate à porta, mas é ignorada solenemente pelas autoridades.
O Amazonas, segundo o IBGE, é o Estado que tem metade da sua população vivendo na pobreza ou extrema pobreza. Até que ponto moradia é mais essencial que políticas que gerem empregos ou que debelem e ao menos reduzam a crise alimentar que afeta cerca de 2 milhões de amazonenses?
Os números são dramáticos e oficiais. Outra organização - Aldeias Infantis SOS - aponta que uma em cada cinco pessoas vivem em situação de miséria somente em Manaus.
A outra questão, que não bate, é a exigência para inscrição no “Amazonas Meu Lar”: famílias com renda mensal de R$ 2,6 mil a R$ 4,4 mil serão prioritariamente atendidas, desde que vivam em imóveis alugados.
Essa política equivocada de construir imóveis também afeta o meio ambiente. A cidade já virou um deserto. Áreas de mata são arrasadas para dar lugar a conjuntos habitacionais, fora problemas de infraestrutura - transporte, saneamento básico, escolas, postos médicos e segurança, que o governo contempla de forma precária.
Nada contra habitações. Tudo contra a falta de planejamento para o desenvolvimento de uma cidade que sonha em ser metrópole e a cada dia é transformada em um grande monstro, rodeada de problemas estruturais.
Vejam o fracasso do Prosamim, um programa vendido como solução para sanear os igarapés e melhorar a vida de quem morava em alagados. O que aconteceu? Os igarapés foram transformados em esgoto a céu aberto e em suas margens construíram apartamentos com problema estruturais, mau cheiro, rachaduras, alagamentos. A vida mudou pouco para os moradores. Quem foi mandado para bem longe, no chamado “Viver Melhor”, o tráfico dominou as famílias e estabeleceu ali um tipo de governança na base do medo e da morte.
Ninguém toca no assunto , por conveniência, conluio ou medo.
ASSUNTOS: Amazonas meu lar, pobreza e politica, Prosamim
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.