O poder dos maus
O grande risco à democracia não reside apenas na sede de poder do presidente Bolsonaro, de suas milícias e dos militares que o seguem. Está em todos nós. Na nossa incapacidade de dialogar, de tolerar o contraditório, de compreender que a democracia não é a liberdade de tudo fazer, mas a construção de mecanismos que permitirão que todo o pensamento flua, como resultado de acordos consolidados e perenes.
Não se constrói nada perene sem ouvir o outro, sem buscar ser ouvido, sem estabelecer acordos, linhas de pensamento que prevaleçam de forma civilizada sobre quem pensa diferente.
O que está havendo no Amazonas - vide audiência pública realizada nesta segunda-feira para discutir a abertura da exploração do gás natural no Estado - é uma absoluta inversão de valores, uma compreensão equivocada pelos agentes públicos do papel transitório para o qual foram constituídos.
Um conselheiro do TCE não comportou-se como juiz, convidado que era, nem teve a conduta que se esperava.
No Brasil não é diferente. No Executivo Federal exercita-se a loucura, que contamina milhares de brasileiros sem educação e sem esperança.
Na Suprema Corte, cada ministro se julga Senhor das Leis e dono de uma autoridade que não lhes foi conferida. E decide de forma suprema em nome de todo um tribunal de 11 membros.
Nos quartéis a disciplina foi engolida pela política. Nas ruas a população, dividida, segue como boiada rumo ao principio no qual as “autoridades” estão conduzindo o País.
Não há uma referência, um líder. A nação está sem rumo, entregue aos lobos.
E percebe-se, com preocupação, que havia uma loucura represada, que está nos afogando.
AS DUAS FACES DO CORONAVIRUS
O fim de semana mostrou que o coronavírus tem duas faces. Pode ser o amigo que alimenta pretensões extremistas e sitia as forças contrárias, ou o inimigo que expõe a incapacidade do poder governante. O governo Bolsonaro está vivendo esse dilema nos últimos meses.
Enquanto manteve o povo de quarentena, a pandemia foi aliada da dissonância do governo. Mas o estica-encolhe inútil ‘cansou’ a paciência e desativou o estado latente do isolamento.
Sem tino para governar o país, haja vista sua inabilidade no campo político, técnico e administrativo, o capitão Bolsonaro aposta na guerra contra o STF para se sustentar no poder.
Para tanto ‘abandonou’ literalmente as milícias à própria sorte e aposta no governo ‘militarizado’ com o time reserva das Forças Armadas. Os fardados sem tropas assume o papel.
O presidente sabe que não possui o poder de fogo que gostaria de ter. Mas tem um exército de ex-comandantes que podem exercitar o que ele mais gosta: o bate-boca intimidador.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.