Busca de Dom Phillips e Bruno marcada por dificuldades. Entenda
Uma quarta-feira de buscas no Vale do Javari, no Noroeste do Amazonas, e nenhum sinal do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo. As dificuldades no deslocamento de pessoal - improvisada diante de uma comoção nacional e internacional - são imensas. Os perigos, também. Não é fácil entrar na região, nem mesmo para os militares. A área não se tornou apenas uma rota do tráfico de drogas procedente da Colômbia e do Peru. Em parte, é ocupada por plantações de coca. Na prática, uma terra de ninguém. E de todos – dos traficantes, dos caçadores, dos grileiros, dos contrabandistas, dos garimpeiros, de ONGS (e seus financiadores) e das diversas denominações religiosas que impõem a conversão dos índios ao cristianismo. Uma terra que no papel é dos índios do Brasil. Mas apenas no papel.
O Exército, a Polícia Federal e a Marinha enviaram seus homens para uma missão quase impossível e ao mesmo tempo perigosa: encontrar Phillips e Bruno. Afinal, há uma decisão judicial que precisava ser acatada. Entende-se a dubiedade da nota inicial do Comando Militar da Amazônia, de que aguardava autorização do comando superior para iniciar as buscas. É que os riscos de entrar no Vale do Javari são grandes e o Exército sabe disso.
Sabe que os homens deslocados para a operação também correm perigo, apesar de preparados. O que retorna à questão que comentamos ontem: o que motivou a incursão de Dom Phillips e Bruno numa área que eles sabiam ser extremamente perigosa?
O problema dos jornalistas da chamada "imprensa profissional" é acharem que são donos do mundo e senhores absolutos da verdade factual. E que, no mínimo, podem se tornar mártires. Não é uma visão inteligente de um mundo complexo e violento como a região do Vale do Javari. Se já é perigoso fazer jornalismo nas grandes cidades, imaginem numa região dominada pelo tráfico, pela cobiça de garimpeiros, contrabandistas, interesses de Ongs, organizações religiosas e grileiros ?
Todos os governos pós-democratização – de Sarney a Lula-Dilma viraram as costas para a região.
Ainda que a homologação da área tenha ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, nada além de falsas políticas de proteção ao índio foi registrado nos governos seguintes (Lula-Dilma), que ainda cometeram o erro de permitir acesso ilimitado as aldeias pelas denominações religiosas e pelas Ongs – o que já constitui uma violência contra a cultura indígena.
O governo Bolsonaro apenas entornou um caldo de violência que já existia, desmobilizando a Fundação Nacional do índio e escancarando as portas do paraíso para seus fanáticos seguidores – garimpeiros e religiosos.
A torcida é que Phillips e Bruno sejam encontrados, mas o tempo decorrido – do desaparecimento até aqui – já indica que uma tragédia aconteceu. Porém, essa é uma história ainda não revelada, mas que será contada nos próximos dias.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.