A censura, com outra roupagem, está de volta
Redigir uma coluna diária não é fácil, especialmente quando a imprensa de um modo geral está sob censura. Vige ainda a “Recomendação” do Ministério Público do Amazonas para não se comentar, falar ou divulgar casos relativos a eventuais ameaças de ataques às escolas, embora a polícia tenha sido colocada em peso nas ruas de Manaus nesta quinta-feira, e um jovem, portando armamento, tenha sido preso em Manacapuru.
Se o mundo enlouqueceu - o mundo que está a dois passos de nós - estamos abrindo mão passivamente de nossa liberdade. A censura chega assim, vendida como necessidade premente de defesa da sociedade.
Sei como começa e como termina. Passei anos de minha vida em um jornal sob censura. Uma época na qual o controle era sobre os movimentos sindicais e estudantis. Hoje a conversa é parecida. Censura virou “regulação”. Não se fala mais em movimentos de forças rebeldes da sociedade, mas em redes sociais.
É terrível assistir atentados às escolas, crianças feridas, pais assustados. Mas esse é um problema que não será resolvido com “recomendações do MP” para os órgãos de imprensa. "Recomendação" é eufemismo para censura aos meios de comunicação.
De início falou-se em regular as redes sociais. Tudo bem. Precisa de algum controle para barrar a ação de extremistas. Mas de repente a imprensa passa a ser o alvo, porque o argumento do MP e de “especialistas" é que os terroristas encontram nas manchetes a promoção que procuram.
O que vem depois? O fechamento de sites? O banimento de jornalistas? O retorno do estado policial do qual nos livramos com o fim do regime militar? É possível…
ASSUNTOS: Atentado as escolas, censura, MP-AM
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.