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A chacina envolvendo policiais do Amazonas e como cuidamos de nossos filhos


Por Raimundo de Holanda

22/12/2022 20h39 — em
Bastidores da Política



Parece não haver dúvida do envolvimento de policiais militares do Amazonas no assassinato de quatro jovens essa semana em Manaus. Primeiro, o carro onde se encontravam foi abordado e revistado, com registro em vídeo. Horas depois, o mesmo carro com as quatro vítimas com sinais de tortura e tiros na cabeça foi encontrado na rodovia - Am-10, que liga Manaus a Rio Preto da Eva.

Do episódio escabroso, duas questões dizem respeito a todos nós. A primeira delas é que nunca sabemos onde e com quem nossos filhos se relacionam. Na verdade, não os conhecemos nem vemos seus defeitos, cegos que ficamos pelo excesso de confiança e pela pretensão exagerada  de que são ou podem ser melhores do que nós.

A segunda, tem relação com a polícia, que vem perdendo ao longo dos anos a confiança da sociedade. Polícia que mata, não protege. E se mata, não é polícia, é gangue, facção criminosa.

Não fosse o video que registrou o momento da abordagem do carro por duas viaturas com oito policiais da Rocam, possivelmente o crime teria sido  atribuído a uma luta entre traficantes, como aliás são explicados ao menos 50% dos  641 homicídios registrados em Manaus entre janeiro e agosto deste ano. Quer dizer, há muitas culpas não assumidas e atribuídas a terceiros.

Não se pode tolerar tantos homicídios. E se a polícia faz parte dessa estatística em que se produz assassinatos em série, então está na hora de uma revisão total do sistema de segurança - e por uma razão muito simples:  Quem banca essa estrutura caríssima, abrindo mão inclusive do direito de transitar livremente pelas ruas sem ser abordado, sem muito critério em nome da segurança de todos, é o cidadão, quando vai à padaria comprar pão, ou abastecer seu carro no posto de gasolina.

A violência pode não ser reduzida - como seria o ideal - mas os homicídios sim, se uma grande parte dos policiais fosse melhor treinada, melhor preparada  para um serviço que é coletivo e visa o bem coletivo.

A sociedade não pode tolerar mais violência, especialmente quando essa violência parte de servidores públicos que vestem fardas que simbolizam confiança, mas que na prática produzem medo e dor.

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ASSUNTOS: chacina da am-10, polícia militar, rocam

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.