Corrida do ouro no Amazonas: queimar balsas de garimpeiros foi um triste espetáculo...
O Brasil encontrou uma fórmula simples de acabar com a pobreza: nas invasões, tratores derrubam casas e invasores apanham de cassetetes. Na corrida do ouro, como ocorreu recentemente em Autazes, balsas de garimpeiros foram incendiadas. Pronto. Problema resolvido. Nem tanto. Ações do tipo apenas produzem mais miseráveis e expõem o imenso fosso que separa uma elite educada, com emprego, casa, comida e renda de uma imensa parcela da população.
A corrida do ouro em Autazes, Amazonas, teve início com uma mentira, que aguçou sonhos, esperança, abrindo um horizonte para o qual já não havia sequer uma tênue faixa para além da última nuvem brincalhona. A mentira se transformou em um arco-íris que apontava para um veio de ouro.
Não havia ouro, não na quantidade divulgada. Mas famílias gastaram as últimas reservas, se endividaram e montaram suas dragas. Levavam mercúrio, material tóxico, que se mata peixes e contamina os rios, provoca doenças naqueles que o utilizam de forma artesanal, no método de churragem, onde a química é usada para revelar o ouro. E o que aconteceu com esse material?
No incêndio das balsas, uma grande quantidade foi parar nos rios. Quer dizer, o meio ambiente acabou contaminado pela ação improvisada do Ibama e da Polícia. Mas no Brasil é assim: Resolve-se tudo na marra.
O sonho do ouro sempre acompanhou o homem - foi atrás desse sonho que Espanha e Portugal enriqueceram, mataram, subjugaram povos e se tornaram nações ricas. Foi com o sonho do ouro que a França se apoderou da riqueza egípcia, que grande parte dos Estados Unidos se desenvolveu.
Por que os brasileiros não podem sonhar? Enriquecer? Tirando da própria terra a riqueza que ela oferece? E aí vem outra questão, muito delicada para estes tempos. O meio ambiente, que deve sim ser preservado.
Mas qual a opção de um pai de família, sem emprego, vendo os filhos com fome, senão buscar na terra o seu sustento?
Os políticos, que só pensam em si mesmos, em reeleição, em orçamento secreto, em obras que lhes rendem muitos dividendos além dos gordos salários, precisam exercer o seu verdadeiro papel: de representantes do povo, da gente que vota neles. E essa gente é que conta na hora do voto.
Ministros, juízes, desembargadores, promotores e procuradores, conselheiros de tribunais de contas que tem gordos salários e até suspeitas Parcelas Autônomas de Equivalência, que ironicamente chamam de PAE(I), precisam olhar para trás, para quem de certa forma contribui para inchar um orçamento viciado ao ser distribuído entre os poderes.
Os pobres são brasileiros e têm direitos. E esses 'poderosos' tem um papel importante na tarefa, senão erradicar a pobreza, contribuir, através de decisões que proferem, das denúncias que fazem, de julgamentos que concluem, para uma país melhor, como todos participando da divisão do bolo que é formado a partir da contribuição que cada cidadão dá aos cofres públicos.
O mal do Brasil não é apenas a corrupção. É também o cinismo, o egocentrismo, a falta de compaixão.
Ei! os outros também precisam de um PAI! (E)
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.