Crime, poder e um coronel sob suspeita protegido pelo governador do Amazonas
O crime organizado não prospera em lugar nenhum sem que encontre brechas para se infiltrar no aparelho do Estado. No caso do Amazonas, colocou seus tentáculos em setores sensíveis, como a Politica, a Inteligência e a Segurança. Se foi mais além, não se sabe. É preciso estar vigilante. A voracidade dos criminosos é tanta e tamanha a ousadia que sua atuação não se limita, necessariamente, à policia. Vai mais além. É preciso identificar o tipo de metástase que provocou nas demais instituições e onde os tumores poderão estourar.
É fato que a Inteligência e a Segurança já apresentavam feridas abertas. Era preciso intervenção urgente, cirúrgica.
Foi o que fez, primeiro o Ministério Público, ao pedir a prisão do secretário Samir Freire, da SEAI, que supostamente comandava uma quadrilha que achacava contrabandistas e roubava ouro.
Segundo e não menos importante, o governador em exercício, Carlos Almeida, ao exonerar o secretário de Segurança Louismar Bonates, acusado de usar o poder do Estado para estimular o crime e lucrar com ele. Rompia-se, assim, por alguns instantes, um ciclo vicioso, em que Estado e crime se confundiam.
Nada que durasse algumas horas. Constitucionalmente habilitado para tomar decisões na ausência do titular, Carlos Almeida foi contrariado pelo governador Wilson Lima, que com um telefonema disparado de Brasilia para a Casa Civil, determinou que o ato não fosse publicado no Diário Oficial.
Mas quem era a autoridade até então? Wilson Lima, ausente, ou o governador em exercício? É óbvia a legalidade do ato do vice e a interferência indevida do governador viajante.
Como estimulador de crises, era previsível a reação de Wilson Lima. Desautorizar o seu vice, no exercício interino do governo, quando poderia, ao retornar a Manaus, dizer que se Bonates servia ao Diabo, servia a ele também, com amizade e reverência. Portanto, tem a sua confiança. Em outro ato, o reabilitaria no cargo. Simples assim. Mas preferiu expor o câncer que se dissemina pelo seu governo.
Começa na estrutura básica de poder - o seu Gabinete, onde ele fazia, segundo a Procuradoria Geral da República, negócios escusos com dinheiro destinado ao tratamento da Covid, enquanto pessoas morriam; passa pela Inteligência, que servia ao banditismo interno e se espalha pelo aparelho de Segurança, com os crimes apontados na justificativa do vice governador para demitir o secretário que o governador protege. Ruim? Pode ficar pior.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.