Deltan Dallagnol e o sistema de justiça
O governo Lula, o Congresso Nacional e o sistema de justiça estão decididos a varrer do mapa qualquer resquício da Operação Lava Jato. A cassação de Deltan Dallagnol pelo TSE, chancelada nesta terça-feira pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, rasga a penúltima página da breve história do País, de orgulho com suas instituições e na qual uma elite de políticos e empresários foi colocada atrás das grades. Uma elite flagrada com a mão no bolso dos brasileiros e que admitiu que roubou. Mais que isso, revelou contas bilionárias no exterior, recheadas com dinheiro expropriado do Brasil.
Deltan entrou na política na ilusão de que mostraria um caminho, que a Lava Jato se reergueria a partir do envolvimento da sociedade e da classe política. Foi seu erro. Entrou na cova dos leões. Não havia inocentes no Congresso…
Curioso é que no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados confirmou a cassação de Deltan, que enfrentou colegas hostis e cujo único crime foi ser procurador e homem forte da Lava Jato - o STF decidiu pela suspensão de todos os processos que o empresário Tony Garcia responde junto à Justiça Federal do Paraná. Tony delatou falcatruas de empresários e participou delas. A justificativa é a versão de Tony, de que foi agente infiltrado da Lava Jato e que no período era obrigado a espionar para o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro.
Vai prevalecer a versão do empresário. Moro, eleito senador, será o próximo a cair.
Quem dormiu tranquilo a longa noite de quatro anos nos quais a Lava Jato durou e acordar agora não ficará surpreso com o fim da maior operação anticorrupção da história do País, com o “cancelamento” de seus principais atores e o retorno dos corruptos à vida pública. Mas sem dúvida olhará com desconfiança o sistema de justiça, que insiste em não se aprimorar, que decide e “desdecide”, que se politiza cada vez mais a ponto de alguns, por pura maldade, compará-lo a partido político. Veja o caso da prisão em segunda instância, que vigiu enquanto foi conveniente…
ASSUNTOS: Deltan Dallagnol, Lava Jato, Sérgio Moro, TSE
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.