Compartilhe este texto

Dia tenso, crianças na delegacia e um excesso que faz mal à escola


Por Raimundo de Holanda

12/04/2023 20h22 — em
Bastidores da Política



 

Foi uma quarta-feira tensa nas escolas de Manaus. Pais preocupados e uma falta de coordenação de diretores e professores na busca de eventuais grupos de risco. Se a apreensão de 27 artefatos é considerado um feito, também revela a ausência de critério  para  analisar cada caso em particular antes de envolver a polícia e expor crianças ao desconforto da exposição indevida em uma delegacia.

A direção da escola não procurou ouvi-las. O motivo de carregar uma arma branca pode ter sido intencionalmente voltada para a defesa pessoal contra eventuais ataques. Foi o caso das meninas de 9 e 10 anos em cujas bolsas foram encontradas facas  e outros artefatos. Isso em um colégio militar. Não é correto - os pais devem ser notificados - mas há um pânico generalizado, alimentado pelo WhatsApp, com mensagens falsas. Pais temem que seus filhos sejam alvos de ataques e, de forma impensada, também os armam. Ninguém pensou que isso pode estar acontecendo ? Como resolver cada caso sem expor as crianças a humilhação pública?

A Polícia resolve? Se há uma prova irrefutável de que  polícia não sabe lidar com crianças eventualmente acusadas de infrações, o exemplo ou o mau exemplo veio do CPM 4, uma escola da Polícia Militar do Amazonas, cuja direção encaminhou 4 crianças para uma delegacia, sem ouvi-las. Sofreram constrangimentos que provocarão danos talvez pelo resto da vida, além de dificultar a partir de agora a convivência com os colegas.

Ao disponibilizar um canal para denúncias, o governo estimula uma onda de informações falsas e trotes de alunos que podem vitimizar um colega, colocando algo em suas bolsas. Isso pode acontecer e acontece.

O que está faltando? Desaprendemos a viver em comunidade. Olhamos o outro com indiferença e medo.

O exemplo vem de casa. Ninguém conversa mais com os filhos. Vem da comunidade onde moramos, dos vizinhos que olhamos com desconfiança. Quantas vezes você deu bom dia para o homem que você contratou para vigiar o seu prédio, ou cumprimentou o vizinho que desce no elevador com você?  Na escola nossos filhos retratam o nosso comportamento. Entram na sala de aula com medo do professor e o professor tem medo deles.  Fazem poucos amigos ou se isolam em grupos com os quais acham que podem destruir o mundo sem pensar no outro.

Não. Isso precisa acabar. Esse desprezo pelo outro, esse ódio, tem uma origem: a família. Vamos pensar nisso seriamente, porque polícia resolve problemas pontuais, mas é a família que transforma a sociedade. E a escola é parte disso. É uma grande família.

Veja também: 

Ataque frustrado: Alunos são flagrados com facas e spray de pimenta em Colégio Militar em Manaus

Seduc divulga canais para denúncias de ameaças de ataque em escolas de Manaus

Nas últimas horas, 25 alunos envolvidos em ameaças contra escolas são identificados no Amazonas

Adolescentes são apreendidos por causar 'terrorismo' com ameaças de ataques a escolas no Amazonas

Ameaça de massacre causa pânico em alunos de escola pública no Amazonas

Deputados defendem PMs armados em escolas do Amazonas após ataque no Colégio Adventista

Aluno esfaqueia professora e colegas dentro do Colégio Adventista em Manaus

Aluno conta detalhes de ataque no Colégio Adventista em Manaus 

Vídeo mostra pânico e estudante ferido durante ataque no Colégio Adventista em Manaus

Coquetéis molotov são encontrados em mochila de autor de ataque no Colégio Adventista em Manaus

Querida, cheguei', disse aluno antes de atacar professora no Colégio Adventista em Manaus

‘Escola segura’: Governo cria canal para receber denúncias de ataques

Colégio Adventista se pronuncia sobre ataque de aluno que feriu colegas e professora em Manaus

Com detector de metais, escolas adotam medidas de segurança após ataque no Colégio Adventista em Manaus

Siga-nos no

ASSUNTOS: Amazonas, Atentados em escolas de Manaus, colégio militar, terrorismo

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.