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Divisão na sociedade brasileira não é culpa de Bolsonaro...


Por Raimundo de Holanda

30/12/2022 20h52 — em
Bastidores da Política



Bolsonaro chorou durante sua live - a última antes de partir para outro país como um comandante rebelde que perdeu a última batalha. Não foi uma fuga, nem um exílio. Ainda. Mas provavelmente recorrerá a esse recurso em algum momento. O cerco se fecha contra ele, seus filhos e auxiliares. É previsível seu fim. Ou talvez não.

O Brasil é o país com tradição de passar o pano em tudo - Lula está aí depois de preso, acusado de lavagem de dinheiro, obstrução da justiça e corrupção, em uma reviravolta surpreendente.  Um milagre? Talvez.

Se Bolsonaro viaja sob fortes criticas um dia antes da posse de seu sucessor e deixa para trás um país dividido e difícil de ser pacificado, que não se atribua apenas a ele as rachaduras na sociedade brasileira.

Essa divisão é fruto de uma decepção nacional com o sistema de justiça. Primeiro, em razão das relações promíscuas entre procuradores e o juiz da Operação Lava Jato; segundo, pela estranha anulação pelo Supremo Tribunal Federal dos crimes atribuídos a Lula.

Não há apenas bolsonaristas nesses 45% de brasileiros descontentes com o resultado da eleição. Há gente bem informada, que aceita o resultado das urnas, mas vê com profunda desconfiança o retorno de Lula ao governo.

Gente bombardeada com informações de corrupção, que viu sacolas de dinheiro retiradas de apartamentos de petistas pela Polícia Federal durante o auge da Operação Lava Jato. Que assistia o Jornal Nacional mostrar o propinoduto diariamente e se revoltava com isso; que acompanhou pela TV a prisão de megaempresários que confessaram pagar propinas a petistas e se comprometeram a devolver o dinheiro aos cofres públicos.

Havia crime e havia provas. Então, por que o recuo do sistema de justiça? Por que o juiz do caso não estava na comarca onde o crime ocorrera e, assim, era incompetente para julgá-lo. Mas seria o caso de anular tudo? De passar um pano na sujeira espalhada na politica, na economia, no País?

É por essa razão que os 45% dos brasileiros têm alguma revolta, mas é injusto qualificar a todos de bolsonaristas, especialmente gente bem instruída, que forma uma massa crítica respeitável.

Gente que não contesta as urnas, mas vai fiscalizar o futuro governo, acompanhar com lupa seus atos. Se Lula resistirá a esse “patrulhamento democrático”, somente o tempo dirá…

 

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ASSUNTOS: Bolsonaro, Lava Jato, Lula, Moro, Posse de, Trump

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.