‘Ele sempre dizia todos os dias: bom dia meu amor’
O PROTESTO DA FAMÍLIA DO SOCORRISTA MORTO POR MOTORISTA BÊBADO EM MANAUS
Num País elitista, meritocrático, as tragédias têm uma escala de importância e o socorro das autoridades às vítimas é agilizado em cima dessa escala de valor. Foi anônimo, permanecerá anônimo, coberto pela fumaça da indiferença. Foi doutor, indigenista ou jornalista, aí a coisa pega, a policia funciona, a justiça é rápida...
Um protesto simples, quase mudo, marcou no final de semana a manifestação de familiares e amigos do socorrista Francisco Machado Ribeiro, morto em acidente de trânsito por um motorista bêbado no volante de um Jeep na madrugada do dia 19. Mudo porque são gritos que se perdem, pela condição social dos manifestantes e porque o socorrista era um desses milhões de brasileiros cuja vida não conta para a imprensa, para os políticos e para o sistema de justiça.
O motorista causador do acidente foi liberado, como dissemos aqui neste espaço, após pagar uma fiança de 20 salários mínimos e responderá pelo crime em liberdade.
O caso não foi alvo de comentários nas redes sociais, nem teve repercussão nacional. Francisco foi tratado como mais um número nas estatísticas de morte violenta no trânsito. Entretanto, estava nas ruas salvando vidas, convivendo com dores e as tragédias de uma cidade violenta.
A Justiça que a família e os manifestantes pediam não se dará com a simples prisão do culpado, após julgamento de seu ato. É preciso que a Defensoria Pública atue em defesa de direitos da família – exigindo indenização pelos danos causados, porque a questão criminal é outra coisa e correrá da forma que a lei prevê, sob o olhar atento do Ministério Público.
Num país elitista, meritocrático, as tragédias têm uma escala de importância e o socorro das autoridades às vítimas é agilizado em cima dessa escala social. Foi anônimo, permanecerá anônimo, coberto pela fumaça da indiferença. Foi doutor, indigenista ou jornalista, aí a coisa pega, a policia funciona, a justiça é rápida.
Não é o caso de Francisco....
Ana Cavalcante, a mãe de Francisco, disse uma frase que serviu para compartilhar a sua dor: “Estamos todos sem chão”. Ellen Assan, mulher de Francisco, lembrou da atenção do marido para com ela: “Ele sempre me dizia, todos as manhãs: bom dia meu amor”. Francisco não era um número, era um homem, um brasileiro e o que ele deixa é um legado de amor e um exemplo de filho que deve ser imitado.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.