Em Manaus, bem e mal se confundem em um clima de violência e impunidade
- Os policiais que participaram da operação na casa do motorista Sérgio Fragoso seriam, num governo sério e voltado para a defesa do cidadão, afastados até a conclusão do inquérito policial. Não é o comportamento padrão do governo do Amazonas…
Ao determinar que a Delegacia de Homicídios apure as circunstâncias da morte do motorista Sérgio Fragoso Monteiro, executado durante a operação ironicamente chamada de “Coalizão do Bem”, a delegada geral, Emília Ferraz Carvalho Moreira, admite que um crime foi cometido. Erra, entretanto, ao expor uma opinião para lá de corporativista: de que os policiais seguiram os protocolos que balizam essas operações e que não acredita que deles tenham se desviado.
Antecipa uma opinião dispensável, porque quem investiga o crime é a própria policia, da qual ela é a chefe. E se trata de um tipo de declaração que, por si mesma, pode viciar um inquérito que precisa ter lisura, independência, imparcialidade.
A participação do Ministério Público na investigação é importante, para inibir qualquer tentativa de o inquérito policial ser contaminado pelo espírito de corpo. Mais, com a autoridade constitucional de exercer o controle externo da atividade policial, cabe ao MP identificar arbitrariedades, como a praticada contra o motorista e sua família.
Os policiais que participaram da operação na casa da vítima seriam, num governo sério e voltado para a defesa do cidadão, afastados até a conclusão do inquérito policial. Não é o caso do governo do Amazonas, onde a delegada - geral prefere dar a eles o benefício da dúvida.
Afinal, segundo ela, “seguiram todos os protocolos”. Mas quais protocolos? Arrombar a casa de um cidadão as 4hs da manhã? Apontar fuzis para ele e a família?
A Polícia do Amazonas só se sobressaiu na operação (que contou com o comando da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro), nesse episódio trágico e vergonhoso, porque todas as demais medidas que levaram à prisão dos verdadeiros criminosos partiram da Inteligência do Rio, inclusive o bloqueio de contas de empresas de fachada no Amazonas, que lavavam o dinheiro da droga para o Comando Vermelho.
A razão parece simples. O Amazonas tem bons policiais, capazes de dar a própria vida em defesa da sociedade, mas são expostos a erros primários porque o Estado mantém uma Secretaria de Inteligência com viés politico, que não funciona como deveria. Serve a interesses outros, por exemplo, como acionar arapongas para fuçar a vida pessoal de jornalistas e autoridades. Ou não marcaria com tinta vermelha, erroneamente, a casa de um cidadão de bem, que acabou morto.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.