Essa mulher incomoda
Uma mulher apaixonada. Pela vida, pelos animais. Uma paixão sem limites, que incomoda. Como tudo que é verdadeiro ultrapassa cercas colocadas para preservar conceitos ultrapassados e esconder a negligência daqueles que são pagos para servir a sociedade. Gente assustada que nunca viu uma mulher brigar pelo que acredita - que os animais têm direitos a um tratamento justo, a um ambiente minimamente salubre e a uma relação de empatia com os que os assistem, seja porque os adotaram, seja porque são cuidadores do Estado, com a tarefa de preservar, assistir, alimentar. A isso se chama amor. Não confundir com dever, obrigação.
A petição eletrônica encaminhada à Assembleia Legislativa pedindo uma investigação por quebra de decoro parlamentar de Joana Darc, que teria invadido a sede do Ibama, é consequência desse susto, dessa coisa nova que o Estado Brasileiro que abriga órgãos como o Ibama, não conhece. E o documento não tem consequência, pois confunde “decoro parlamentar” ou falta dele com a ação de uma cidadã que protestava (contra apreensão de um animal), fora do ambiente legislativo.
Sim, havia ao lado de Darc uma multidão, gente nova, com mentalidade nova que respeita a vida, que reverencia a natureza, um exército que protege o que o estado negligencia.
A petição fala em assédio e ameaça a uma servidora. Que assédio? Que ameaça? No Ibama deve constar aquela plaquinha infeliz contendo em letras garrafais o artigo 331 do Código Penal, que os legisladores já deveriam ter excluído, porque impede qualquer cidadão de questionar, exigir seus direitos porque tudo é considerado desacato:
“Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.”
Uma excrescência que inibe o exercício da cidadania, o livre questionamento, o chamamento de atenção de servidores que afinal são pagos por quem mesmo ? Pelo cidadão inibido de exigir direitos, de ser atendido e recebido com dignidade em qualquer órgão público.
Que o destino da petição seja o arquivo. Os deputados devem ter ao menos a dignidade de rejeitá-lo.
ASSUNTOS: Filó, Ibama, Joana Darc
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.