Esse mundo de pessoas de cor, belo e hostil
- Vivemos tempos difíceis. Nem é preciso sair à rua para sentir o gosto amargo do ódio. Muitas vezes está dentro de casa, no vizinho, num membro da família, nas pessoas que acolhemos com boa vontade…
O mundo a nossa volta é belo e hostil. Desde crianças travamos uma guerra particular contra os outros e os outros contra nós. Há pontos fracos ou grosseiramente assimilados que nos tornam vulneráveis. Um deles, a cor.
Quando nos incomodamos com a nossa cor, damos ao ‘adversário’ uma arma poderosa, que nos desestabiliza e nos aniquila. As diferenças entre nós e eles só contam porque em parte não valorizamos a nós mesmos, porque o que vemos no espelho não é o que somos, os valores que construímos, nossas habilidades, nossa inteligência, mas o que eles dizem de nós.
O caso de Vinícius Júnior, jogador do Real Madrid, é apenas um exemplo. A torcida adversária, ao chamá-lo de ‘macaco’, o desestabilizou e foi o 12o jogador em campo. Resultado: confusão, expulsão de Vinicius e a Vitória do Valência.
Um caso de racismo? Sim. Em alto grau, mas não vai acabar porque uma torcida joga com o time, em qualquer lugar do mundo. E o estádio é uma praça de guerra. Há regras em campo, mas não nas arquibancadas.
Em parte somos responsáveis por esse tipo de ocorrência, que se repete na escola, no trabalho, na tentativa de flerte com “aquela moça”.
Nossas políticas afirmativas são equivocadas. Como ideia de um resgate de povos marginalizados ao longo da história é algo bom, um salto de humanidade, mas na prática se revelam erros históricos, que apenas anabolizam o preconceito. E geram hostilidades.
Vinícius JR tem o méríto de ser um dos melhores jogadores de sua época. Está fazendo história no futebol, mas utilizou a arma errada para enfrentar o ódio das arquibancadas. Poderia ter ignorado as ofensas ou respondido com o que sabe fazer e que poucos fazem como ele: dribles, gols - que também inflamam torcidas e têm a magia de gerar empatia, reconhecimento.
O problema não está nas diferenças. Elas existem. Estão à nossa frente. O problema é o ódio que saiu dos armários. O problema é a inveja que tem potencial de destruir, de aniquilar.
Vivemos tempos difíceis. Nem é preciso sair à rua para sentir o gosto amargo do ódio. Muitas vezes está dentro de casa, no vizinho, num membro da família, nas pessoas que acolhemos com boa vontade…
ASSUNTOS: Racismo, Real Madrid, Vinícius Jr
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.