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Fugir de Cila para cair em CARíbdis


Por Raimundo de Holanda

01/07/2020 0h31 — em
Bastidores da Política



 

Cila e Caríbdis, citados na carta de exoneração do vice-governador Carlos Almeida, da chefia da Casa Civil, em 18 de maio, renasceram nesta terça-feira com o resultado da operação Sangria, da Polícia Federal. No final da coluna, reproduzo o trecho da carta do vice-governador. Cila, na odisseia de Homero, é uma Ninfa de rara beleza. Aqui, ela simboliza o fetiche pelo dinheiro e a corrupção. No final, transforma-se no monstro que engoliu  o governo Wilson Lima, cujos destroços se avolumam em torno de CARíbdis.

Na carta  de exoneração - todos lembram - CARlos fala de fantasmas ou espectros que assombram o governo, o levam para o mau  caminho e lamenta não estar no leme  do barco “que singra por águas tormentosas”. CARlos também aponta que: “personagens tão ou mais perigosos se encontram em todos os lugares, às vezes, até mesmo dentro nosso próprio barco”.

Essa carta teria sido um salvo-conduto? Ou CARlos sabia demais? A tese da conspiração do vice-governador é antiga, diria fantasiosa. Não foi alvo de nenhuma investigação, mas terá que responder a muitas perguntas à CPI da Saúde, que investiga  o pagamento de cerca de R$ 1 bilhão de dívidas de outros governos quando comandava a pasta da saúde, e que a comissão já identificou algumas incoerências.

Dois de seus principais assessores, que ocupavam cargos de comando na Secretaria de Saúde, foram presos pela Polícia Federal. O tempo dirá se Fugir de Cila para cair em CARíbdis é uma saída para a crise moral, ética  e política vivida pelo Estado do Amazonas

LEIA TRECHO VISIONARIO DA CARTA

DE EXONERAÇÃO DO VICE GOVERNADOR

 

“Empreguei toda a energia que pude na pasta da Saúde, contudo as convulsões internas de março de 2019 fizeram com que o Senhor me chamasse à Casa Civil, onde o trabalho de reconstrução deveria ser feito, aliado à articulação política. Ao que me dediquei, com perseverança e lealdade durante todo o ano de 2019, o que permitiu a construção de um ambiente de austeridade, a autorizar para este ano de 2020, o início de ações estruturantes, como exemplo, Moradia, no caso Monte Horebe.

Contudo, não se singra por águas tormentosas sem que se tenha de enfrentar Cila e Caribdes. Em Política não é diferente, e personagens tão ou mais perigosos se encontram em todos os lugares, às vezes, até mesmo dentro nosso próprio barco. Meu papel, enquanto homem público, preocupado em fixar mais um tijolo na construção de um Amazonas melhor, foi sempre de blindar meu Estado contra esses Espectros, alertando-lhe, sempre, dos caminhos a serem seguidos, para não tombar nos rochedos.

Todavia, a despeito de todo meu esforço, não estou com a mão no timão, e já exauri minhas forças remando forte no sentido oposto de muitos nessa Galé. Portanto, Senhor Governador, agradecendo-lhe toda a confiança que me foi depositada, afirmo-lhe não seguir pelos atuais rumos, ao passo que lhe comunico minha exoneração da Casa Civil, retirando-me para o ofício inerente à vice governadoria.

Manaus, 18 de maio de 2020. Carlos Alberto Souza de Almeida Filho

“Empreguei toda a energia que pude na pasta da Saúde, contudo as convulsões internas de março de 2019 fizeram com que o Senhor me chamasse à Casa Civil, onde o trabalho de reconstrução deveria ser feito, aliado à articulação política. Ao que me dediquei, com perseverança e lealdade durante todo o ano de 2019, o que permitiu a construção de um ambiente de austeridade, a autorizar para este ano de 2020, o início de ações estruturantes, como exemplo, Moradia, no caso Monte Horebe.

Contudo, não se singra por águas tormentosas sem que se tenha de enfrentar Cila e Caribdes. Em Política não é diferente, e personagens tão ou mais perigosos se encontram em todos os lugares, às vezes, até mesmo dentro nosso próprio barco. Meu papel, enquanto homem público, preocupado em fixar mais um tijolo na construção de um Amazonas melhor, foi sempre de blindar meu Estado contra esses Espectros, alertando-lhe, sempre, dos caminhos a serem seguidos, para não tombar nos rochedos.

Todavia, a despeito de todo meu esforço, não estou com a mão no timão, e já exauri minhas forças remando forte no sentido oposto de muitos nessa Galé. Portanto, Senhor Governador, agradecendo-lhe toda a confiança que me foi depositada, afirmo-lhe não seguir pelos atuais rumos, ao passo que lhe comunico minha exoneração da Casa Civil, retirando-me para o ofício inerente à vice governadoria.

Manaus, 18 de maio de 2020.

Carlos Alberto Souza de Almeida Filho

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ASSUNTOS: Carlos Almeida, Operação Sangria, Policia Federal, wilson lima

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.