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Fumaça em Manaus. ‘Culpa do Pará’


Por Raimundo de Holanda

03/11/2023 20h15 — em
Bastidores da Política


  • Aos paraenses falta o discurso que está na boca dos amazonenses: “aqui não desmatamos e mantemos em pé 95% da floresta”. Este verão está mostrando que esse é um discurso ultrapassado e com cheiro de fumaça.
  • O pior é que não estamos fazendo nada para evitar um futuro no qual nossos netos não possam respirar. Ao contrário dos paraenses, a classe política do Amazonas é escandalosamente acomodada...

‘A fumaça que encobre Manaus vem do Pará’. É a velha mania de culpar os  paraenses pelos nossos fracassos - especialmente na segurança…Agora eles seriam os responsáveis pelo envenenamento de nossos pulmões. Mas vamos ponderar. Afinal essa versão do governo do Amazonas é baseada em números apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - o INPE. No Pará  foram mapeados 1.401 focos de incêndio somente neste novembro. Mas o Amazonas  aparece com 20. É bem menos, mas o tamanho do foco impacta na capacidade de gerar fumaça. O INPE não mede o tamanho nem o nível de propagação do fogo. No ano, o Estado totalizou, até aqui, 18.680 incêndios em área de mata, contra 32.160 no Pará. 

Por ter menos foco de incêndio o Amazonas tem mais fôlego, mais tempo e muito provavelmente mais recursos para reduzir esse número a zero no próximo verão. Ao Pará, que depende de áreas desmatadas para manter sua matriz econômica, toda ela baseada no extrativismo - minérios, madeira, carvão vegetal e palmito,  cabe exercer um controle que hoje não existe. Ou talvez seja impossível exercer, devido o tamanho do estado.

Não dá para culpar apenas os paraenses, aos quais falta o discurso que está na boca dos amazonenses: “aqui não desmatamos e mantemos em pé 95% da floresta”. Este verão está mostrando que esse é um discurso ultrapassado e com cheiro de fumaça.

Se o Pará queima hoje em nível proibitivo, o Amazonas está logo atrás.  Com menos empregos no comércio e na indústria e com o esvaziamento da Zona Franca de Manaus nos próximos anos, esse povo vai viver do quê ?  Vai migrar da cidade para o interior. E a floresta pode de repente desaparecer, numa onda de fumaça. 

O pior é que não estamos fazendo nada para evitar um futuro no qual nossos netos não possam respirar. Ao contrário dos paraenses, a classe política do Amazonas é escandalosamente acomodada...

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ASSUNTOS: Amazonas, Pará. Zona Franca de Manaus, Queimada

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.