A fumaça tóxica espalhada pela política
- Alguém sugeriu levar para a Times Square as imagens da fumaça sobre os rios e do prefeito de Manaus na academia. Não há qualquer relação entre as queimadas e uma atividade lúdica do prefeito fora do horário de expediente, além de ser uma sugestão ridícula, que apenas revela o grau de atraso de alguns políticos e a falta de sensibilidade no enfrentamento de um problema que deve ser, sim, atacado a partir de Brasília.
É curioso o comportamento de alguns políticos diante de uma catástrofe ou de algum fenômeno, mesmo provocado pelo homem, que ameace a vida e a saúde das pessoas. Se as queimadas tiveram consequência - e ainda não foram totalmente debeladas - a fumaça teve duplo significado: afetou a saúde de milhões de amazonenses e se expandiu de forma ainda mais tóxica no discurso de parlamentares com problemas de socialização, mas com uma incrível capacidade de manipular a opinião pública em proveito próprio.
Não são misantropos, mas cultivam uma profunda indiferença com o bem das pessoas.
Antes de pensar nos outros, buscando meios de solucionar o problema, põem-se a apontar culpados - geralmente adversários no campo das disputas eleitorais, como se Manaus e o Amazonas não vivessem um problema que diz respeito a todos - ao Congresso Nacional, que não conseguiu até hoje aprovar uma política ambiental que conciliasse preservação e desenvolvimento na região; ao governo federal, que tem sido excessivamente cauteloso, emparedado por interesses de Ongs que se instalaram no Ministério do Meio Ambiente, impondo uma contenção exagerada da exploração das riquezas da Amazônia, contemplando interesses de europeus e norte-americanos com intenções sabidamente colonizadoras.
Mudar esse cenário de devastação da floresta, de queimadas e de prejuízos à saúde de milhões de pessoas depende de união. De cada um deixar de lado ambições e interesses pessoais para lutar pelo estado, pela cidade de Manaus - pelo direito das pessoas não apenas respirarem melhor, mas viverem com alguma dignidade.
Mais coerente foi a Defensoria Pública, que viu no episódio a falta de políticas governamentais voltadas para prevenir esse tipo de ocorrência durante o verão Amazônico, com repercussão inclusive internacional, no site canadenses Ground News, que publicou matéria também postada em 'O Globo'.
Em tempo: não houve foco de incêndio em Manaus, mas nos municípios da região metropolitana e fora dela.
ASSUNTOS: Amazonas, fumaça, Manaus, queimadas
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.